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Mãe Hilda, referencial de negritude e religiosidade

- 13/07/2011

Ações sociais são marca do legado da ialorixá no bairro da Liberdade

Por Talyta Almeida e Thaís Caribé

Mãe Hilda Jitolu - Foto: Arquivo Ilê Aiyê

Hilda Dias dos Santos, a Mãe Hilda Jitolu, nasceu em Cosme de Farias, localizado no bairro de Brotas, Salvador, no dia 6 de janeiro de 1923. Aos 13 anos, mudou-se para o Curuzu, onde cresceu, casou-se e teve seis filhos: Antônio Carlos, o Vovô do Ilê (fundador do bloco Ilê Aiyê), Dete Lima, Vivaldo Benvindo, Hildemária Georgina, Hildelice Benta e Hildelita. A matriarca ensinou a seus filhos a importância e o respeito ao candomblé, levando eles a acompanharem desde criança os rituais, as festas e obrigações da religião.

Aos 20 anos, mãe Hilda foi iniciada no candomblé, quando recebeu o nome Jitolu e, nove anos depois, fundou o Terreiro Ilê Axé Jitolú, ao lado da sua casa. Foi no terreiro que aconteceram as primeiras reuniões que deram origem ao Ilê Aiyê. O bloco afro foi criado em 1974, vindo a desfilar no carnaval de Salvador em 1975. Para Vovô, Mãe Hilda, virou referência para o bairro e é uma pessoa muito respeitada na comunidade. “Ela foi uma das pessoas que contribuiu para a questão do respeito não só à negritude, mas à religiosidade, ao candomblé, que era uma coisa complicada há alguns anos na Bahia”.

O terreiro Ilê Axé Jitolu também serviu como espaço para os ensinamentos de Mãe Hilda. Em 1988, ela fundou a Escola Mãe Hilda, com o objetivo de preservar os conhecimentos acerca da cultura africana, integrado ao compromisso social. Mais tarde, em 1995, o Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê passou a atuar também nas escolas públicas do bairro. Hoje, a entidade oferece cursos profissionalizantes de assistente de cozinha, estética afro, informática, confecção de instrumentos e telemarkenting.  Para a filha-de-santo Jaci Trindade, Mãe Hilda contribuiu muito “não só pelo axé, pelo terreiro, mas pela vida social através da Escola Mãe Hilda que ajuda a comunidade sem cobrar nada”. No âmbito nacional, Mãe Hilda incentivou a criação do Memorial Zumbi dos Palmares, em Alagoas.

No carnaval de 2004, o Bloco Ilê Aiyê a homenageou com o tema ‘Mãe Hilda: guardiã da fé e da tradição africana’, em comemoração aos 30 anos do Ilê. Era Mãe Hilda quem comandava a cerimônia religiosa que antecede o desfile do Ilê Aiyê no sábado de carnaval. Da sacada de sua casa, ela presidia um rito para abrir os caminhos e reverenciar os orixás. A cerimônia terminava com a soltura de pombos brancos por todos os diretores do Ilê e pela rainha eleita pelo bloco como a beleza do ano, a Deusa de Ébano.

No dia 19 de setembro de 2009, Mãe Hilda faleceu aos 86 anos, por problemas cardíacos. A líder espiritual foi sepultada em ritual próprio do candomblé no Cemitério Jardim da Saudade. Filhos-de-santo ligados ao terreiro Ilê Axé Jitolu permaneceram em vigília durante a noite, velando o seu corpo e, no dia seguinte, se reuniram em torno do caixão para entoar os cânticos e dar início ao cortejo fúnebre. Mãe Hilda foi sepultada na presença de inúmeras pessoas, todas vestidas de branco.

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