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Marcos e modos de produção dos jornais na Bahia
- 06/06/2011Transformações ao longo do bicentenário da mídia impressa baiana
Por Gisele Santana e Naiana Madureira
Ao longo dos seus 200 anos de existência, a imprensa baiana passou por uma série de transformações que caracterizam hoje o modo de produção da notícia. Se nos primeiros veículos diagramados ouvir apenas uma fonte era a prática rotineira de apuração, atualmente celulares e outros dispositivos móveis, internet, fontes oficiais e independentes são requisitos básicos para a coleta de boas informações.
Até a década de 50, os jornais criados não obedeciam às regras de editoração que hoje regem os grandes veículos e subsidiam o trabalho do jornalista. Cada periódico lançado inseria no mercado novidades que aos poucos eram absorvidas pelos outros jornais. Como foi o caso do A Tarde, primeiro veículo baiano a trazer matérias pagas, ou publieditoriais, e do Diário de Notícias, que introduziu o anúncio pago nas redações baianas.
Com a criação do Jornal da Bahia, em 1958, aparecem os primeiros usos do lead e do conceito de pirâmide invertida. Foi o veículo que instituiu a diagramação prévia nos jornais da capital, que até então eram diagramados nas oficinas de impressão. “O Jornal da Bahia valoriza o uso das fotos e a compactação de títulos, evitando o emprego de artigos nas chamadas”, afirma Jussilene Santana em seu livro Impressões Modernas (2009).
De acordo com o jornalista Florisvaldo Mattos, em entrevista no livro Memória da imprensa contemporânea da Bahia, organizado por Sérgio Mattos, o veículo criado por João Falcão foi o primeiro jornal baiano a trabalhar a distribuição das matérias por seções temáticas e o planejamento das reportagens através de pautas. O Jornal da Bahia introduziu no mercado baiano a pauta e a figura do pauteiro, fórmula já vigente nos grandes veículos do Rio de Janeiro. Somente na década de 70 seriam consolidados nos veículos baianos os cadernos especializados e as colunas.
Em 1969, a Tribuna da Bahia inova, ao ser o primeiro jornal do Brasil a implementar um manual de redação e criar a “Escolinha TB de Jornalismo”. Ali, estudantes dos cursos de Direito, Letras Filosofia e Medicina, aprendiam regras básicas para elaboração de uma boa matéria. Regras de apuração, como o uso de mais de uma fonte, e a imparcialidade nas matérias ganham fôlego a partir deste momento.
Não era exigida nenhuma formação específica para desempenhar a atividade jornalística, os profissionais da área aprendiam na prática o fazer jornalístico. O maior defensor da obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão no mercado baiano foi Jorge Calmon, jornalista e famoso redator-chefe do A Tarde, falecido em 2006, que acompanhou de perto a implantação do primeiro curso de Jornalismo da Bahia, em 1950. Apesar da formação em Direito, Jorge Calmon lecionou gratuitamente na instituição.
Em 1956 chegam ao mercado 64 bacharéis formados pelo Curso de Jornalismo, na época um departamento da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. Apesar da grande receptividade que marcou o início do curso, por falta de demanda, as aulas ficaram suspensas por dez anos. Para Jorge Calmon, em artigo publicado no A Tarde em 2000, a “falta de estruturação legal; desamparo pela administração universitária; improvisação de parte do professorado; carência absoluta de recursos; desaparelhamento para oferecer ao alunado o preparo prático; distanciamento do mercado de trabalho; falta de proteção legal do diploma” foram fatores que colaboraram para a falência do curso.
Seis anos depois, em 1962, o curso superior para formação em Jornalismo é de fato efetivado. Sob a coordenação de Jorge Calmon, o curso possuía três anos de duração e tinha caráter eminentimente prático. Profissionais reconhecidos na academia e no mercado foram convidados a participar da empreitada, entre eles Florisvaldo Mattos, João Batista de Lima e Silva, Fernando Rocha, Ary Guimarães, Milton Cayres de Brito, Zitelmann de Oliva, Manoel Dias, Raul Sá, Loureiro de Souza, Hélio Simões, Adroaldo Medrado, Carlos Eduardo da Rocha e Consuelo Pondé.
Associações de classe
Em defesa da classe jornalística e do livre exercício da profissão, a partir de 1930 a Bahia passa a contar com a Associação Baiana de Imprensa (ABI), fundada por grandes nomes do jornalismo como Altamirando Requião, Thales de Freitas, Aureo Contreiras, Thadeu Santos, J.C. da Costa Pinto, Oscar Assis Sampaio, Padre Manoel Barbosa e Ranulpho Oliveira. Atualmente, a entidade é presidida por Walter Pinheiro, diretor-presidente do jornal Tribuna da Bahia.
Quinze anos após a criação da ABI nasce o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) Segundo o seu estatuto, a entidade de classe foi constituída para “fins de defesa e representação legal dos interesses e das reinvidicações da categoria profissional de jornalista – diplomados e profissionais devidamente registrados no Ministério do Trabalho e Emprego”.
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