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Tatuadores usam técnicas para camuflagem de cicatrizes e alertas de saúde

Kelven Figueiredo - 22/11/2017

As técnicas de cobertura  de manchas e cicatrizes promete resultado imediato e valor mais acessível se comparado a procedimentos estéticos comuns

A arte de tatuar o corpo sempre foi um tabu: alguns amam e não conseguem mais parar, enquanto enquanto outros simplesmente abominam. Essa prática é tão velha quanto existência humana, no entanto não é possível encontrar vestígios e corpos de um tempo tão distante com a pele preservada. Os primeiros registros de tatuagem que se têm registrado são as múmias egípcias de mulheres, como a de Amunet, que teria vivido entre 2160 e 1994 a.C.. Esta apresenta traços e pontos inscritos na região abdominal o que faz alguns especialistas acreditarem que a tatuagem, no Egito Antigo, poderia ter relação com cultos à fertilidade.

No entanto, ao longo dos anos, a prática foi se reinventando, renovando técnicas, melhorando em termos de qualidade e se espalhando pelo mundo. Com isso, os usos da tatuagem foram variando e vão desde rituais religiosos, identificação de grupos sociais, marcação de prisioneiros e escravos – como a tatuagem usada pelo Império Romano -, ornamentação, até a camuflagem. A prática vem aos poucos substituindo procedimentos estéticos, cirurgias plásticas, tratamentos dermatológicos e até mesmo servindo de alerta para emergências.

Uma tendência que vem ganhando força são as chamadas tatuagens de alerta. Estas consistem em tatuar condições médicas da pessoa, como o tipo sanguíneo, alergias e até mesmo o tipo de diabetes. O movimento pretende salvar a vida de paciente inconscientes ou em um caso crítico passando informações ao profissional que cuidará do caso. Fabrizio Vieira é tatuador há 20 anos e declara já ter feito algumas tatuagens do tipo. “Várias sinalizações viram mania e moda na tatuagem, a de alerta eu considero a mais importante porque de certa forma cuida do bem estar da pessoa em casos de necessidade”, explicou.

Tatuagens de alerta pode auxiliar a troca de informações entre serviço médico e paciente em casos de emergência (Foto: Redes Sociais)

 

 

 

Rômulo Cruz, tatuador há 15 anos, declara que tem muita procura principalmente para a cobertura de cicatrizes. Ele atribui o aumento da procura ao crescimento do mercado da tatuagem em si. “A tatuagem vem se tornando cada vez mais comum, daí esse tipo de público encontrou na arte uma maneira de esconder seu incômodo através da tattoo”, analisou ele. Vieira discorda sobre o crescimento da prática. Segundo ele, o mercado em Salvador ainda é um pouco fechado para isso e avalia apenas 30% das pessoas buscam a tatuagem com este fim.

É importante ficar atento ao profissional escolhido, uma vez que não é qualquer tatuador que está apto a realizar esse tipo de tatuagem, pois se trata de um trabalho mais delicado. Rômulo alerta ainda que se a tatuagem for feita por cima da cicatriz é preciso ser cuidadoso porque geralmente a pele está lesionada e não possui a mesma estrutura de antes, além disso é recomendado analisar o grau e tamanho da cicatriz. Nesses casos, a experiência com esse tipo de procedimento conta.

Por se tratar de um procedimento mais delicado, a tatuagem leva mais tempo para fica pronta e exige mais do tatuador. Além disso, o profissional precisa ter alguns cursos na área. Cruz optou pelo curso oferecido na Escola de Medicina, o qual o habilitou para tatuar por cima de manchas e cicatrizes. No caso de manchas na pele é necessário ter uma autorização de um dermatologista autorizando a realização do procedimento.

Tatuagem para camuflar cicatriz e cobertura de tatuagens antigas (Foto: Redes sociais)

Os perigos da camuflagem com pigmentação

Camila Sampaio, biomédica esteta, confirma que embora camuflar manchas e cicatrizes esteja cada vez mais comum em alguns casos pode ser perigoso ou mesmo proibido. Segundo ela, não existem contra indicações para cicatrizes e manchas comuns, como queimaduras, acidentes, mancha de limão ou sol, e até mesmo nas estrias. Porém, é recomendado que a pessoa espere o tempo mínimo de regeneração da pele que é de 3 a 4 semanas, dependendo da gravidade da lesão.

Camila afirma que o perigoso mesmo é quando a tatuagem pretende esconder manchas ou cicatrizes causadas por doenças, nestes casos é possível que além de não obter o resultado esperado, o indivíduo comprometa sua saúde. “Por exemplo: nas manchas por vitiligo, o processo inflamatório gerado pela tatuagem pode fazer a mancha aumentar. nas cicatrizes por carcinoma – tumor maligno desenvolvido a partir de células epiteliais, glandulares ou do trofoblasto que tendem a invadir tecidos circulares originando metástases.-, uma tatuagem por cima pode esconder a reincidência do tumor, dificultando o tratamento precoce; nos casos de queloides, como o pessoa tem uma cicatrização imperfeita a tatuagem pode acabar gerando uma nova queloide.”, alertou.

Embora seja uma prática não recomendada pela biomédica, Vieira aponta as tatuagens que cobrem queimaduras e queloides como um desafio “O tatuador precisa estar atento aos caminhos que a pele faz e ter o mínimo de experiência com peles lesionadas”, defende. Além disso, ele acredita que existem alguns requisitos que o tatuador precisa atender para estar apto ao ofício. “O tatuador precisa ser profissional e entender de saúde, anatomia, pele e desenho.” , advertiu.

Priscyla Soares, 26, considera fazer sua primeira tatuagem em breve. Ela que convivia muito bem com um sinal, localizado entre o nariz e a boca, desde os 5 anos de idade, se viu obrigada a realizar um processo cirúrgico para remoção do mesmo. Segundo ela, ao retirar foi observado que este havia enraizado o que poderia se espalhar e causar um câncer no futuro. Contudo ela não parece muito satisfeita com o resultado. “Ainda não me acostumei com o meu rosto assim, se o incômodo persistir farei uma tatuagem imitando meu sinal”, afirmou.

Procedimentos estéticos alternativos à cirurgia e tatuagem

A esteticista Java Ribeiro é especialista em cobertura de estrias e remoção de pigmentos indesejáveis. Pioneira na aplicação da técnica na capital soteropolitana, ela explica que embora o processo de micro pigmentação seja feito com pigmentos e máquina de tatuagem, este é mais superficial, o que não causa dor como a tatuagem. A técnica consiste em aplicar pigmentos em áreas mais claras da pele, de modo que a deixe mais uniforme. A escolha da cor ideal se dá por meio da mistura de pigmentos com base na colorimetria.

O procedimento não pode ser feito em qualquer tipo de estria, apenas nas brancas, porque segundo a especialista estas já estão devidamente cicatrizadas. As estrias vermelhas ou roxas, que ainda estão em sua fase inflamatória precisam ser submetidas a outros procedimentos estéticos para que elas cicatrizem e só aí possam ser camufladas. Além disso, a mulheres gestantes ou lactantes também não podem se submeter ao tratamento.

A micro pigmentação atua ainda na área de reconstrução de mamilos e atende não só mulheres que acabaram perdendo os mamilos na mastectomia, mas também vítimas de uma cirurgia plástica que não deu muito certo. A fisioterapeuta e micro pigmentadora Ana Cosme é uma das poucas profissionais que oferecem o serviço em Salvador e vem devolvendo a auto-estima de muitas mulheres que procuram o estúdio onde ela trabalha. Segundo ela, muitas de suas pacientes optam pela micro pigmentação porque não querem ter a experiência de se submeter a outro processo cirúrgico.

O processo é uma alternativa para as pacientes que sofreram algum tipo de trauma na cirurgia e não desejam se submeter a esse procedimento novamente. (Foto: Arquivo pessoal)

 

 

 

A micro pigmentação ainda atua na área de preenchimento de sobrancelhas, cílios e calvície; além da reconstrução e coloração dos lábios.

 

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