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Microalgas são alternativa para a produção de biodiesel

- 11/09/2013

Organismos microscópicos e unicelulares, elas são estudadas como substitutas das plantações vegetais usadas como fonte para combustível biodegradável

Luana Oliveira, Tayse Argôlo e Wendell Wagner

Não apenas de milho, soja e cana de açúcar são feitos os biocombustíveis, alternativas renováveis para as fontes de energia de origem fóssil, como o petróleo. Projetos experimentais realizados em todo o mundo têm destacado as microalgas como fonte de produção do biodiesel. Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Laboratório de Bioenergia e Catálise (Labec), coordenado pelo professor doutor Emerson Andrade Sales, é pioneiro na pesquisa deste segmento no estado.

Microalgas são organismos produtores dos óleos usados como matéria-prima para o biodiesel. O coordenador do Labec acredita na eficácia do processo como uma alternativa altamente sustentável para a produção de fonte de energia. “Nós temos uma visão de tecnologia limpa, trabalhamos pensando no mínimo de impacto para o meio ambiente e por isso desenvolvemos projetos sem resíduos, com aproveitamento total de energia”, explica Emerson Andrade.

Ainda nas palavras do professor, o ganho na produção dessa energia limpa, em comparação aos prejuízos e benefícios trazidos pela extração do petróleo, é muito mais vantajoso. Para ele, o petróleo utilizado hoje, que é retirado do solo, não é quimicamente viável. “Nós já temos cálculos que comprovam o balanço energético da retirada de petróleo como negativo. A energia que se aproveita é muito menor do que a energia que foi gasta no processo. É irracional do ponto de visto energético”, afirma. Assim, de acordo com o ponto de vista dos pesquisadores, a utilização da biomassa das microalgas, que produzem energia através da fotossíntese, a partir da luz do sol, gratuita e abundante, é energética e economicamente mais viável do que o petróleo e os biocombustíveis provenientes de plantações, que precisam desmatar grandes áreas de terra e causam prejuízos ao meio ambiente.

Alguns cultivos de microalgas ficam guardados em geladeiras especiais, sob rigoroso controle de temperatura. Foto: Wendell Wagner

Das microalgas ao biocombustível – Para a obtenção do biodiesel, o estudo realizado na Escola Politécnica da UFBA utiliza um processo que se inicia com o cultivo das microalgas em fotobiorreatores reciclados. Como explica a pesquisadora e mestre em Biotecnologia, Cíntia Almeida: “Nós utilizamos galões de água para cultivar as algas. Durante o cultivo, podemos manter a microalga no seu estado natural ou conduzi-la a produzir um determinado produto”. Segundo Cíntia, esse é o método que os pesquisadores chamam de estresse: “modificamos as condições do cultivo para que a microalga altere a sua via metabólica e possa produzir o nosso produto de interesse”. No caso da produção de biodiesel, os próximos passos incluem a extração dos óleos das algas específicos para este processo.

No Labec, toda a produção ainda é desenvolvida em escala laboratorial, mas o objetivo da pesquisa é realizar o cultivo das microalgas e a produção da biomassa em larga escala. Para isso, é montada uma planta piloto, com cinco fotobiorreatores de placas planas no estacionamento da Politécnica, em uma área sem cobertura e com grande incidência de luz solar, utilizada pelas microalgas para converter CO2 em biocombustíveis potenciais. Entretanto, os fotobiorreatores ainda não têm data para começar a funcionar. Sem proteção contra possíveis depredações ou sem estrutura básica como luz ou água, o projeto da planta piloto está parado. “Não temos o devido apoio da instituição. Eu estou tentando instalar eletricidade e água há meses, mas ainda não consegui. Se nós tivéssemos suporte, o projeto obteria resultados em larga escala muito mais rápido”, critica Emerson Andrade.

Galões de água usados como fotobiorreatores reciclados. Foto: Wendell Wagner

Planta piloto do Labec no estacionamento da Escola Politécnica - UFBA. Foto: Wendell Wagner

Vantagens e desvantagens do uso de microalgas – Para os pesquisadores do laboratório, a utilização das microalgas para o contexto bioenergético só representa vantagens. “Nós acreditamos que a biomassa de microalgas contém uma quantidade tão variada de moléculas que pode suprir nossas necessidades em relação a muitas indústrias que são alimentadas pelo petróleo”, reconhece o professor Emerson Andrade.

A única desvantagem apontada pelos pesquisadores é a da contaminação. “Com cultivos em sistemas fechados, como os fotobiorreatores, não conseguimos escapar de contaminação bacteriana. Isso dificulta o processo, porque se houver alguma contaminação que impeça o crescimento da microalga, ela morre e o cultivo é perdido. Aqui no Labec, isso acontece porque o laboratório não é um ambiente estéril, ideal”, explica a bióloga Cíntia Almeida. Apesar de não ter nenhum caso registrado, os pesquisadores afirmam que o contágio é ainda mais danoso caso o cultivo seja feito em sistemas abertos. “Se você tiver um cultivo de algas em uma lagoa artificial, por exemplo, e esse cultivo vazar num ecossistema que não é típico dele, pode haver uma contaminação, e isso representa um risco grande para o ambiente”, conta Emerson Andrade.

A biomassa microalgal é bastante rica em moléculas e dela se produz biocombustíveis e bioprodutos. Foto: Wendell Wagner

Investimentos em microalgas – Apesar de ser um processo ainda pouco explorado em grande escala, a obtenção de energia a partir das microalgas ganha adeptos em muitas partes do mundo. Países como Estados Unidos, Alemanha, Israel, Bélgica, França e Nova Zelândia desenvolvem pesquisas nesta área. O professor Emerson Andrade vê o Brasil como um promissor concorrente na tecnologia de microalgas. “O investimento em projetos como o nosso é crescente, mas ainda muito pouco quando comparado com os países desenvolvidos. Nós, do Labec, tivemos a oportunidade de visitar centros de estudo nos Estados Unidos e na Europa e vimos muitas plantas pilotos funcionando, mas em termos de tecnologia e conhecimento não tem ninguém à frente do que fazemos por aqui, está todo mundo no mesmo patamar. Nós não podemos reclamar”, avalia.

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