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Mobilidade em Salvador: um longo caminho a se trilhar
- 04/07/2012Sem grandes alternativas para locomover-se pela capital baiana, o soteropolitano se vê submetido a um transporte público ruim
Danielle Lopes
Com a chegada do inverno, as chuvas se intensificam, buracos aumentam nas ruas, engarrafamentos crescem e, o que já era difícil, torna-se uma odisséia: locomover-se em Salvador. Limitados a um transporte público ruim e caro, a maioria da população soteropolitana não tem alternativas para uma mobilidade sustentável. Quando se pensa nas pessoas que têm algum tipo de deficiência, a situação torna-se ainda pior, com calçadas e áreas públicas que pouco respondem a critérios de acessibilidade.
Uma série de dados revela as debilidades nos equipamentos de mobilidade na capital baiana. No estudo “Calçadas do Brasil2012”, realizada pelo Movimento Mobilize, Salvador apresentou as quatro piores calçadas entre as capitais estudadas e as ciclovias correspondem a apenas 0,36% da extensão do sistema viário.
Para o coordenador do curso de Urbanismo da Uneb, professor Ney Castro, este resultado expõe o descaso histórico, de todas as administrações que passaram na cidade do Salvador, frente à questão das calçadas. A vendedora Sirleide Maria da Silva, concorda e reclama das calçadas na região da Av. Vasco da Gama: “As calçadas aqui são horríveis, além de ter carros estacionados e lixo por todo canto, agora tem essa obra que atrapalha tudo”. Veja o Mapa:
Visualizar Piores Calçadas de Salvador em um mapa maior
O coordenador da Associação Municipal de Pessoas com Deficiência, Gledson Oliveira, afirma que ainda falta muito para a mobilidade em Salvador ser aceitável. Para ele, além da dificuldade com transporte público, os cidadãos soteropolitanos não respeitam as necessidades especiais do outros. “Pessoas com deficiência enfrentam muitos obstáculos para fazer o que para muitos parece simples”, explica.
Procurada para falar sobre o panorama da mobilidade em Salvador, a Secretaria Municipal de Transporte e Infraestrutura (Setin) não se manifestou a respeito.
A questão da mobilidade sustentável é urgente. De acordo com o projeto do governo federal, Brasil em Desenvolvimento 2011, em 2010, 42,5% da população do país concentrava-se em Regiões Metropolitanas (RM). A de Salvador apresentou um crescimento populacional maior que o nacional, chegando, em 2010 com o número absoluto de 3.507.110 pessoas. As cidades que mais têm crescido na RMS são Camaçari, Lauro de Freitas e Simões Filho.
Para se pensar em mobilidade sustentável, além de ações políticas específicas, é preciso olhar o panorama de forma ampla e integrada, considerando as necessidades de toda a população da Região Metropolitana de Salvador, e suas especificidades. Veja matéria sobre os projetos de mobilidade propostos para a RMS.
Transporte individual – Em maio, o governo anunciou incentivos para a aquisição de veículos próprios com redução de IPI e aumento das linhas de crédito. Ney Castro, não acredita que esta seja a solução para mobilidade sustentável: “O governo privilegia o transporte individual, quando os recursos que são renunciados pela queda do IPI poderiam ser direcionados para o transporte de massa”. Para ele, tais medidas terão reflexos nos grandes congestionamentos urbanos.
Atualmente, Salvador possui 787.653 veículos, de acordo com dados do Detran até abril de 2012, e aproximadamente 5.000km de sistema viário, segundo a Transalvador. Considerando o comprimento padrão de uma vaga para um veículo médio 4,7m, se todos estes automóveis fossem para a rua ao mesmo tempo ocupariam 3.702km. Setenta e quatro por cento das vias urbanas estariam lotadas de carros.
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