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Mulheres aceitam privilégios para “agregar valor” a baladas
- 13/12/2013Caroline Prado
Barbies e panicats são duas categorias bem conhecidas da promoter Safira Parente, que atualmente administra as almejadas listas VIP do Tarantino Art Bar, na Barra, Ocho Ceviche Bar e Club Ego, ambos no Rio Vermelho. Sem rodeios, a produtora assume: muito mais do que desejadas pelos rapazes, mulheres atraentes são, de fato, as grandes cobiçadas pelos empresários em busca de lucro.
“Se eu disser que não, estarei mentindo. A maioria dos promoters são orientados a só dar os ingressos VIP a meninas bonitas”, reconhece. Segundo ela, o artifício nada mais é do que uma questão “cultural”. “O mercado apenas segue a cultura que as pessoas têm de chegar numa festa e querer ver gente bonita”. O desejo, para Safira, é típico do público de classes sociais mais privilegiadas. “Os públicos de cada classe têm um gosto diferente, vão para lugares diferentes, não costumam se misturar muito. O pessoal que paga mais caro costuma ter essa exigência”, completa.
Para a professora Carolina, porém, a prática é naturalizada e faz parte de uma cultura muito maior de “cortejo” às mulheres. “Não é uma questão de classe social, mas sim de um conjunto de ideias construídas no imaginário feminino. Isso perpassa hábitos supostamente benéficos, como abrir a porta do carro para elas ou pagar a conta, mas traduz o discurso hegemônico que sempre as coloca em um espaço de subordinação.”
“Feias também conseguem” – Magra, de cabelos lisos e compridos, rosto delicado e 23 anos, a vendedora Mariana Rêgo também parece atender a todos os requisitos para conseguir um lugar nas relações de moças que nunca pagam para entrar. Assídua do Tarantino, Ocho e Villa Cancun, no Itaigara, ela sabe que a simetria de seus traços é determinante, mas prefere contar com sua agenda de contatos para carimbar o nome nas listas VIP. “Eu não acho que o importante é só beleza, as amizades também são essenciais. Até porque tem muitas meninas feias que conseguem”, considerou, ao descartar supostos malefícios causados pelas facilidades obtidas. “O fato de entrar de graça não faz com que eu seja mais paquerada ou incomodada em uma festa”, determinou.
Questionada sobre como se sente na posição de chamariz de rapazes, a jovem, uma das tantas belas que “agregam valor” à noite soteropolitana – como diria o Rei do Camarote, recém-criada celebridade baladeira da internet -, limitou-se a definir a estratégia como uma “forma inteligente de gerar lucro”.
Na visão da especialista, no entanto, opiniões como essa são expressão do “lugar de conforto” ocupado por quem se beneficia do sistema, seja homem ou mulher. “Essas ações discriminatórias estão imersas no cotidiano e as pessoas se abstêm da crítica por comodismo. É preciso entender o papel individual de cada ser humano na reflexão do dia-a-dia”, sugere.