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Mulheres aceitam privilégios para “agregar valor” a baladas
- 23/12/2013Boates dos bairros mais nobres da cidade não medem esforços na hora de criar métodos eficazes para atrair “beldades”. Para pesquisadora, práticas são discriminação travestida de benefício
Caroline Prado
Quando o assunto é cair na balada, as mulheres reinam sobre os homens e gozam de uma série de privilégios maliciosamente concedidos por donos de bares e boates objetivos quase sempre bem claros. Em Salvador, boates que fervem nas noites dos bairros mais nobres da cidade não medem esforços na hora de desenvolver métodos eficazes para atrair o maior número possível de moças que se encaixam em estereótipos de beleza – e, consequentemente, fisgar a parcela do público masculino disposta a pagar caro para “pegar geral”.
Localizado no boêmio bairro do Rio Vermelho, o Bar 30 Segundos, por exemplo, que tem nome inspirado no universo da publicidade – ou talvez no curto período de tempo entre os beijos que acontecem no local -, é um dos mais conhecidos do ramo e tem como grande atrativo o serviço Quinta Club. Trata-se de um clã de garotas com passe livre, extensivo a mais cinco amigas, nos eventos realizados às quintas-feiras, dia de open bar e maior movimento na casa.
Para fazer parte do grupo, é preciso muito mais do que espírito baladeiro. No site da empresa, a página destinada ao cadastro de pretensas contempladas pede nome, data de nascimento, endereço e profissão das candidatas. Por fim, é necessário cadastrar uma foto, item importante na seleção realizada pelo gerente Anibal Bittencourt.
Embora negue que a beleza seja um critério essencial no processo de admissão, o administrador diz que é necessário conhecer visualmente as concorrentes para “identificar” seu público feminino. “A avaliação é aleatória. A gente tenta atender todo mundo, mas são muitas solicitações por dia”, disse, ao reconhecer, porém, que o clube tem por único objetivo atrair mais “beldades” para o local. “Elas são as grandes estrelas da noite. Em uma boate com muitas meninas, a festa fica mais tranquila, mais equilibrada e a paquera flui melhor”.
As belas da noite – A estudante de direito de 22 anos, pele clara, olhos verdes e cabelos tingidos de loiro, cortados à altura dos ombros, não poderia deixar de ser uma das escolhidas. A moça faz parte do grupo há cerca de oito meses e jura que vai ao “30” (como carinhosamente chama a boate) pelo menos uma vez a cada 15 dias. “Gosto de lá porque tem uma energia boa e sempre encontro gente bacana, conhecida ou não”, define.
Solteira, ela diz que o lugar é propício a romances, apesar de a grande quantidade de homens “na seca” e “sem noção” incomodar um pouco. “Às vezes rolam umas situações chatas. Eles ficam puxando as meninas para tentar alguma coisa, mas é só não dar bola”, ensina.
A universitária – que demora aproximadamente uma hora para se arrumar antes de partir para uma festa e acredita que, sim, sua aparência a torna uma cliente preferencial – diz não ver sinais de preconceito nos critérios privilegiados pelo estabelecimento na hora de eleger suas maiores frequentadoras. “O quesito beleza é avaliado em todo lugar, não só nesses ambientes. Numa entrevista de emprego, por exemplo, estar bem arrumado é super importante. Quem não quer ver gente bonita?”, questiona.
A professora em estudos de gênero e diversidade da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher, Caroline Barreto, enxerga esse cenário com outros olhos. Para ela, as estratégias mercadológicas adotadas pelas boates da cidade vão muito além do machismo. “Podemos chamar não só de sexismo, como de misoginia [aversão ou ódio às mulheres] e racismo. A gente sabe que, nesses casos, pelos critérios da estratificação social, só serão consideradas bonitas mulheres brancas – a Barbie ou a ‘panicat’, opina.