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Nas coxias com o teatro baiano

- 16/07/2013


Conheça o trabalho de criação dos diferentes artistas que participam da construção de um espetáculo cênico

Lorena Vinturini e Simone Melo

Toca o primeiro sinal. Nas coxias, alguns atores cantarolam notas em diferentes alturas para aquecer a voz. Outros esticam as pernas, alongam os braços, o pescoço. Outros ainda chacoalham com força o corpo e movimentam as articulações. Segundo sinal. Na plateia, o diretor observa o público que ocupa as cadeiras. Alguns atrasados sobem a escada em busca dos seus assentos. Terceiro sinal. Já em suas posições, o elenco espera para entrar no palco. Mas, até chegar ao mise-en-scène, os trabalhos de criação de diferentes profissionais foram exaustivamente discutidos e revisados. Cenário, figurino, luz, música e maquiagem. São muitos elementos aliados ao elenco e à direção que se unem para emocionar o público e contar histórias nos espetáculos teatrais.

Nas coxias, muito antes da estreia, a produção cênica envolve a profunda interlocução entre os profissionais de criação envolvidos. Com uma concepção geral da estética visual, a função do diretor é orientar e unir as ideias através de diálogos frequentes.

Bastidores – Um ano antes da peça Amor Barato estrear na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, o diretor Fábio Espírito Santo ligou do Rio de Janeiro para o cenógrafo Rodrigo Frota em Salvador. “Rô, quero inscrever meu texto em um edital do Núcleo TCA. Preciso de um desenho”. Ciente do enredo da peça – uma adaptação da fábula infantil de Dona Baratinha -, Frota projetou para o espetáculo um palco cheio de escadas, onde os atores pudessem se locomover.

A ideia foi só o começo de uma série de seis desenhos à mão e projetos feitos no SketchUp até chegar ao resultado final: um palco quase cru, ocupado por andaimes em montagens irregulares. Segundo Frota, os processos de concepção de cenários são variáveis. Em geral, o tempo médio é de cinco a seis meses para criação, execução e montagem, mas não há um padrão. “Em Pólvora e Poesia, por exemplo, levamos dois anos até chegar àquela mesa”, disse, ao lembrar do espetáculo dirigido por Fernando Guerreiro, em 2010, no qual trabalhou. A cenografia, como explica Frota, “é a definição e a escolha do espaço em que a peça vai se desenrolar”. “Se eu tiver um palco vazio com uma cadeira no centro, isso é cenografia. Por mais que eu não construa nada”, exemplifica.
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Um dos poucos profissionais a trabalhar com cenários em Salvador, Frota tem incursão relativamente recente na área. Porém, devido à carência de mão de obra na cidade, seu portfólio é bastante recheado – houve ano em que ele chegou a acumular a responsabilidade por 14 cenários. “O mercado de trabalho é carente. As pessoas desistem por causa, principalmente, da dificuldade financeira”, explica. Nomes como Zuarte Jr., Renato Motta e Euro Pires também contribuem com a cenografia, em Salvador.

No galpão do TCA Rodrigo Frota executa, junto à sua equipe, os cenários. Foto: Lorena Vinturini

Na ambientação do espaço cênico, o produtor de objetos também participa do trabalho de criação. A função, imprescindível ao cinema, é ainda pouco explorada no teatro, mas já soma experiências. Ano passado, a peça Dissidente, uma montagem realista dirigida por Gordo Neto, apresentava na ficha técnica a parceria entre Frota e o produtor de objetos Dan Rodrigues. “A minha missão é sair em busca de objetos que ajudem a compor a personalidade do personagem. O objetivo é que o público entenda através do meio quem é o interlocutor”, explica Dan Rodrigues.

Foto: Lorena Vinturini

O figurino é outro elemento fundamental para a construção das figuras dramáticas. Características fundamentais, como a classe social, ficam claramente representadas através dos trajes, que carregam também a contextualização temporal. “A importância do figurino é criar a identidade do trabalho”, define Rino Carvalho, que veste o teatro baiano desde 1999. Vencedor do Prêmio Braskem de Teatro 2012 na Categoria Especial pelo figurino de Amor Barato, Rino tem um jeito de trabalhar bastante próprio, que se estende por outras searas. Afinal, sua história no teatro começa muito antes do trabalho de figurinista, como diretor. “Todo mundo começa da mesma maneira. Eu produzia meus trabalhos e como não tinha patrocínio, tinha que fazer tudo: luz, cenário, figurino, escrever, dirigir e atuar”.[beforeafter][/beforeafter]

 À frente da direção na peça A Ave, que estreou esse mês, Rino encarregou Agamenon de Abreu e Zuarte Jr. pelo figurino. “É bacana delegar para outra pessoa. No caso, eu gostei muito e cheguei a pensar que teria feito o mesmo”, brincou. “As pessoas vão achar que fui que fiz porque é minha cara”. No teatro, é muito comum que os profissionais passeiem por várias etapas da criação artística, além da sua especialidade.

Já com cenário e figurino encaminhados, o diretor ainda precisa lançar mão de outro profissional indispensável: o iluminador. A luz deve dialogar com todos os elementos em cena, maquiagem, música e, inclusive, com a interpretação. “A iluminação influencia e é influenciada pela interpretação dos atores durante o processo de montagem de uma peça”, explica o diretor Fábio Espírito Santo, que também é iluminador cênico.

 

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