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Negociação é a regra no ‘inferninho’ da prostituição

- 21/11/2011

Na parte baixa da pirâmide do sexo, o barato sai caro

Por Alexandre Wanderley e Luan Santos

Foto: Alexandre Wanderley

No caminho rumo ao “topo” do esquema de prostituição na capital baiana, a primeira parada é no “inferninho”. O apelido sugestivo faz jus ao lugar, devido ao desconforto em que estar ali provoca.

Na entrada, um terno velho e batido esconde um homem magro e alto. Pulseira, relógio e um punhado de dinheiro folheado enquanto é informado o valor do ingresso: “R$ 20, com direito a quatro latões”, avisa o segurança do local, que pede para não ser identificado. Depois da porta, um altar com algumas imagens guardadas em uma redoma de vidro iluminada por uma luz vermelha e uma escada de madeira antiga. Na subida, já é possível ouvir a música e avistar uma mulher que fita os olhos em todos os homens que chegam ao salão.

O lugar é escuro, apesar do globo giratório de luzes. A parede é decorada com desenhos coloridos e psicodélicos de seres extraterrestres e afins, dando um ar meio infantil. Mas, basta prestar atenção ao palco para lembrar que o lugar não é de criança. Uma mulher começa um striptease e segue séria até o fim da dança, quando fica completamente nua. O público parece não perceber a expressão da dançarina e leva ao alto a cerveja que é insistentemente oferecida por uma garçonete semi-sorridente. Enquanto isso, um cliente decidido parte para fechar o negócio com a recém-saída do palco. Ele pode tentar levá-la dali, mas tem, também, uma opção talvez mais cômoda e muito mais barata.

No canto do salão, há um par de “quartos” improvisados. Cada cabine tem, no máximo, dois metros de área. No lugar das paredes, folhas finas de madeirite fazem a delimitação do espaço que tem uma cortina como porta e, naturalmente, não possui qualquer isolamento acústico. Por R$ 40 está acertado o programa e garantido o ‘matadouro’. É o que diz o mesmo homem magro da entrada, quando se despede avisando que a terça-feira, por causa da festa da benção no Pelourinho, é o dia mais movimentado no estabelecimento.

Na Montanha – Bem perto dali, na Ladeira da Montanha, outra versão da mesma cena. No lugar do magrelo, uma senhora obesa aparentando mais de 60 anos faz as honras da “casa” que frequenta há mais de trinta anos. Ela nega ter sido garota de programa. Hoje, funciona como uma espécie de gerente do bar que fica ao lado do casarão que abriga os encontros agenciados por ela. Gerente e cafetã, portanto, já que o aluguel do casarão é pago por ela com parte da renda fornecida pelas bebidas e pelos programas.

Portando uma habilidade elástica incompatível com a idade e o peso, ela desliza por um buraco minúsculo, do tamanho de uma caixa de telefone, que serve de passagem para o motel improvisado. Do lado de fora, ouve-se bem o ranger da porta velha se abrindo e, de novo, surge uma escada. São muitos lances até chegar ao subsolo, onde ficam os quartos. O lugar fede. O odor do mofo se mistura a outros cheiros estranhos. Entre os cômodos, não há isolamento completo, simplesmente, porque não há cobertura no teto.

Quatro paredes, um chão com cimento avermelhado, mais uma cortina que serve como porta e um grande vão que tem vista privilegiada para o precário telhado principal do casarão. Deitado numa espuma coberta com um lençol desbotado, o cliente mais atento pode ouvir com clareza o furor ao lado. Os menos atentos, por sua vez, deixam os pacotes de preservativos usados largados pelos cantos.

De volta ao bar, salta aos olhos a tabela de um preço só, que está fixada na parede. O quadro avisa que o aluguel do quarto custa R$ 8. O programa fica na faixa dos R$ 30, mas isso não está escrito. É dito pela anfitriã, que conversa com duas meninas que moram ali. As demais só transitam em horário de expediente, que é noturno. No resto do tempo, feijão na panela de pressão, televisão ligada no programa policial do meio-dia e conversa fiada no passeio, a vida que corre aparentemente normal para moradores e transeuntes da ladeira.

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