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O cuidado da família Silveira com Fau, portador de deficiência mental
- 11/03/2013As dificuldades ao cuidar de um familiar portador de doença mental são várias. Os problemas financeiros e a inexperiência também interferem
Iasmin Sobral e Rita Barbosa
Enquanto o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é a solução para uns, outros vivem como podem. É nessa lógica que Flávio Silva Silveira, 38 anos, sobrevive ao mundo. Mesmo com alguns arranhões (sim, arranhões!). Ao chegar à residênciaem que Fláviovive com os pais, a fim de conhecer a sua história, nos deparamos com uma situação complicada. Fau, como é conhecido no bairro do Alto das Pombas, havia se machucado ao tentar fugir pulando uma janela.
Voltando do mercadinho e ainda com as compras na mão, Benedito Silveira, 70, pai do rapaz que sofre de esquizofrênia, se deparou com o filho ao chão. Ao levá-lo para dentro da casa, constatou que havia urina no chão. Pegou um pano e foi enxugar, repetindo continuamente que o rapaz não costumava ficar sozinho. Seu Benedito deixou Flávio dormindo e foi ao mercadinho, confiando que ele não acordaria tão cedo, depois de ter passado a noite tentando fugir.
Benedito se aposentou para cuidar do filho. Já sua esposa, Francisca Silva Silveira, 68, trabalha como costureira. A família Silveira, além de sobreviver aos moldes que a deficiência mental do filho impõe, também precisa superar as crises epilépticas sofridas por ele. Benedito afirma que não podem gradear a casa, pois, se o filho quiser sair e vir as grades, destruirá tudo, como já aconteceu uma vez quando o trancaram em seu quarto.
Enquanto o pai falava, a mãe chegava com panos para costura. Olhou o filho no chão da sala e já foi tirando sua roupa molhada de xixi. Pegou uma muda de roupas no quarto e um balde para fazer a higiene. Benedito e Francisca divergem em como lidar com a patologia do filho, chegando a discutir sobre o que seria melhor. Para o pai, Fau tem que estar sempre sob o efeito de remédios, já sua mãe pensa que a medicação só é necessária caso haja alguma crise agressiva ou epiléptica.
Para ele, o remédio tem que ser dado antes de terminar o tempo imposto pelos médicos. Para ela, de acordo com a receita. Contudo, como foi ele quem deixou o trabalho de taxista para tomar conta do filho, Francisca prefere deixar que o marido decida enquanto permanece nas atividades domésticas e na costura. “Alguém tem que ficar com ele enquanto as clientes vêm aqui”, afirma.
Seu Benedito é enfático ao afirmar que, do Governo, só tem os remédios. “Não vou ficar levando para o médico quando ele tem crises, porque só vão aplicar uma injeção na veia. Prefiro ir dando o remédio, porque evita dele fugir e se machucar”. Ele vê que as pessoas não entendem quando a família amarra um ente por conta da violência que decorre da deficiência mental. “É muito fácil criticar, como os vizinhos daqui fazem. Mas venha aqui tomar conta, pra ver como é. Ajudar, ninguém ajuda. Mas falar mal…”, diz ressentido. Ao exibir a medicação do filho, Benedito repetia: “A gente não amarra ele pra não ser preso. Ele iria gritar muito…”.
Os pais dizem que o mais difícil é quando o rapaz quer sair. É complicado Acompanhar o filho pelas ruas do bairro, enfrentar o preconceito e o medo das pessoas. “Fau é um bom menino. Mas, quando ele está agressivo, eu tenho medo. Saio de perto”, afirma Dona Francisca.
Eles dizem que a história do filho poderia ter sido outra. Sabem que a dependência dele, até em ir ao banheiro, foi por conta da inexperiência da família. Se tivessem recebido instruções médicas, teriam entendido que o filho poderia aprender coisas básicas como limpar-se após usar o vaso.
Flávio faz uso das seguintes medicações: Cloridrato de prometazina 25 mg (antialérgico), Longactil 100 mg (sedativo), Barbitron 100mg (anticonvulsivo, hipnótico e sedativo) e Carbamazepina 200 mg (anticonvulsivo). Os pais não sabem se ele sente dor, mas acreditam que se ele fica quieto no canto é porque está tudo bem.
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