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O desafio de cobrir a pauta ambiental na Bahia
- 08/06/2011Por Joseanne Guedes
Uma conversa agradável na Biblioteca de Saúde da UFBA deu o tom do encontro do ID126 com a jornalista Maiza de Andrade. Há 30 anos, ela ingressava na antiga Escola de Biblioteconomia e Comunicação da UFBA (EBC), para cursar jornalismo. A ex-editora de Meio Ambiente do jornal A Tarde revela sua insatisfação com a cobertura dispensada à questão ambiental no estado da Bahia e fala dos desafios encontrados pelos jornalistas que cobrem essa área. Afastada das redações, Maiza de Andrade dedica-se ao mestrado da UFBA em Saúde, Ambiente e Trabalho na Faculdade de Medicina da UFBA. Leia trechos da entrevista a seguir.
Impressão Digital 126 – Você foi editora de Meio Ambiente do Jornal A Tarde. Você tem alguma relação com os movimentos em defesa do meio ambiente do estado?
Maiza de Andrade – Fui militante do movimento “SOS Chapada” e assessora da Rede Mata Atlântica e do Grupo Ambientalista da Bahia. Mas, hoje não tenho uma participação tão ativa. Ingressei na antiga Escola de Biblioteconomia e Comunicação da UFBA (EBC) em 1981, mas só comecei a atuar após dez anos de formada. Agora afastada das redações, me envolvi inteiramente no mestrado.
ID126 – Como a academia pode contribuir para a reflexão sobre as temáticas ambientais?
MA – No seu papel de produtora de conhecimento, ela consegue atuar de forma mais incisiva quando se conecta com questões correntes. É claro que há limitações, principalmente em relação às normas. Faz muita diferença o acadêmico que olha através das janelas da sala de aula e percebe o contexto no qual está inserido.
ID126 – E o profissional nas redações? Qual a sua contribuição?
MA – Sua contribuição é maior pelo fato de ter sua voz ampliada. É uma peça-chave na sociedade para o questionamento e propagação de ideias. E não é um repasse de informações, mas uma reflexão. O grande barato do nosso trabalho é a possibilidade de perguntar e suscitar a reflexão.
ID126 – Enquanto era repórter do jornal A Tarde, qual foi sua pauta mais difícil na cobertura de C&T?
MA – Foram muitos anos dedicados a essa temática. Posso citar as mais recentes, que foram as matérias sobre a perda da área verde de Salvador, em função do avanço imobiliário. Essas foram muito difíceis porque esbarrava em escassez de dados “incontestes”. Somos reféns daqueles que possuem os dados cobrados por todos, desde o editor até o leitor. Dependemos das fontes para legitimar o discurso. Perceber que a área verde está sendo perdida não é o suficiente.
ID126 – Muitas matérias se restringem a apresentar resultados, sem contextualização, ponderação sobre riscos. Em 2010, durante sua palestra na Semana de C&T, na FACOM, você falou de temas polêmicos, como a especulação imobiliária, as licenças para construir, as áreas de desmatamento, expondo a sensação de impotência dos divulgadores em algumas situações. Seu desligamento do A Tarde foi em função da sua cobertura?
MA – Não diretamente. Não foi uma única matéria que me causou um problema imediato. Na verdade, as dificuldades para a cobertura da pauta ambiental de Salvador, sobretudo por causa do setor imobiliário, foram desmotivando o trabalho. O PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano) de Salvador legitimou o modelo de ocupação nocivo para a cidade. Mas, o jornalista está de mãos atadas porque os empresários têm licenças ambientais.
*Maiza de Andrade – Jornalista graduada pela antiga Escola de Biblioteconomia e Comunicação da UFBA (EBC). Foi editora de Meio Ambiente do jornal A Tarde. Atualmente, faz mestrado em Saúde, Ambiente e Trabalho na Faculdade de Medicina da UFBA.
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