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“O discurso é novo, mas a forma de compor o governo é a tradicional”

- 04/02/2013

Segundo Wilson Gomes, ACM Neto fez a combinação possível, dentro das forças políticas que ele precisava reunir.

Ana Paula Lima e Raquel Santana

 

 Wilson da Silva Gomes, há 24 anos desenvolve pesquisa na área de Política e Comunicação. Seus três livros publicados sobre o tema, são referência para estudantes e pesquisadores de todo país. Professor titutar de Teoria da Comunicação na Universidade Federal da Bahia, pesquisador e orientador no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Gomes é um dos maiores nomes para falar sobre política na Bahia, tendo em vista sua experiência na área. No que diz respeito à composição do secretariado de ACM Neto, é enfático: “não há mudanças, a inovação é apenas no discurso”.

Impressão Digital 126- Tendo em vista a composição do secretariado de ACM Neto poderíamos afirmar que suas escolhas formam um misto de experiência e inovação?

Wilson Gomes- Isso é discurso dele. Quando você mistura velho e jovem, pode usar esse argumento. Mas a princípio não tem esse negócio de experiência e inovação. É a combinação política que foi possível fazer. As forças políticas que ele precisava reunir. A questão das coalizões que ele precisava fazer para conseguir apoio para governar. O modo como ele lida combinando, na medida do possível, as pessoas de sua própria confiança, com aquelas pessoas que são do grupo político ao qual ele pertence, da linhagem política da qual ele sempre foi. É muito mais por aí que se explica a formação do secretariado, do que essa combinação de experiência e novidade.

ID 126– O único secretário mantido no cargo foi João Carlos Bacelar, que permaneceu na pasta da Educação. Como o senhor avalia este fato, partindo do pressuposto que ACM Neto queria criar um secretariado técnico e inovador?

WG- Como eu disse a princípio, não é uma mistura de experiência e juventude. Esse é um discurso fácil de fazer, retoricamente fácil, e todo mundo gosta de fazer este tipo de discurso. A questão é: você vai comprar o discurso dele ou vai examinar o que tem por trás? E o que tem por trás é o modo tradicional de formação do primeiro escalão e o escalão intermediário também, de cargos do executivo. O mesmo critério! Não a nada de extraordinário de novo, etc… Não é um conjunto nem de pessoas extremamente jovens, totalmente jovens que não tem nada a ver com isso, nem é, aquilo que se falou muito na campanha, um secretariado de técnicos. Não tem nada disso aí. A maior parte é cota partidária, você vê claramente. Um tanto para o PV, o tanto par o DEM, tradicional- tem Aleluia- um tanto par o PTN, que tem uma força política importante. Você tem também cotas ligadas ao PMDB. Então você tem cotas partidárias. Sentou as forças políticas que vão apoiar a mesa e negociou os novos, que é a foram mais tradicional de compor o secretariado. Então não foi técnico, não foi juventude e renovação, não foi combinação de experiência e tal, porque isso não significa absolutamente nada, é uma frase só. Também não foi como Collor fez uma vez, um ministério só de notáveis, não usou nenhum desses critérios alternativos. Ele usou o critério tradicional e incluiu algumas poucas pessoas de sua confiança.

ID 126– Foi uma boa combinação dentro do que Neto podia fazer?

WG- Isso é uma incógnita. Ainda tem uma pegada tecnocrata, no sentido de trazer pessoas de São Paulo, trazer pessoas do Rio. Esta é uma característica também que ele quer vender uma nova engenharia, um novo modelo de governar, é isso. É um catadinho, uma mistura de tudo do que é mais comum e tradicional, ou seja, formação de coalizões, com a distribuição de cargos pelas forças que o amparam politicamente, com influência de sua tradição política do carlismo. No caso, precisava acomodar Aleluia, Pedro Godinho, Tinoco, Paulo Souto, e ainda um viés digamos tecnocrata que faz parte, se não digamos de uma proposta verdadeira de renovação, pelo menos de fazer um pouco de espuma, de parecer que é jovem e tal, vai trazer gente de São Paulo, e para isso fez um estudo anterior.

ID 126– Na sua opinião, nomes como o de Kátia Alves, atual responsável pela LIMPURB, e Carlos Bacelar que tiveram envolvimento com alguns escândalos políticos prejudicam o secretariado de Neto?

WG– Quem sabe?! Depende da performance de quem governa. É difícil determinar isso, a priori. São lideranças políticas tradicionais. Não podia abrir mão de Bacelar, porque o problema é o grupo de Bacelar. O PTN tem uma das bancadas mais pesadas, e são vereadores da cota de Bacelar. Então como é que tira o PTN? Não pode. O PMDB, Geddel, foi muito importante. Como ele vai tirar gente da cota de Geddel? Não tem condições dele fazer isso. Ainda tem o DEM, tradicional, que vem da herança do carlismo, que também não pode descartar. Além de pessoas que perderam. O Pedro Godinho, por exemplo, perdeu a eleição para vereador, vai fazer o que? Deixar o cara ficar na rua? Vai dizer, não, eu preciso dele.

ID 126– Há possibilidade de Neto replicar o “estilo avô” de governar?

WG- Ele não vai replicar o avô. Não é simplesmente por que ele tem outras convicções, é por que não é mais possível fazer isso. Não tem a menor possibilidade de fazer isso. Primeiro porque ele não tem o capital político e social que o avô tinha. Controlar a magistratura, controlar as posições políticas de primeiro e segundo escalão, de transformar tudo em mercadoria política e controlar isso com mão de ferro. Ele não tem essa capacidade, não tem esse capital. Ele não estava pronto para ser o príncipe reinante, quando a avô morreu. Não tendo isso, ele vai ter que encontrar outros caminhos. Segundo por que não está nos tempos. Hoje há mais transparência no serviço público, há mais órgãos de controle, o PFL não pode mandar e desmandar. Há grupos políticos alternativos muito fortes, mesmo no interior do estado, não havendo aquela hegemonia absoluta, controlada inclusive com recursos federais, não é possível replicar isso. Não há condições políticas, nem jornalísticas, nem sociais para que se possa replicar esta situação, então é preciso encontrar de fato um outro caminho. Ele inclusive está fazendo o discurso da competência, um discurso de planejamento. Lançou um conjunto de ações, com seus 39 decretos. Elas são destinadas a mostrar que de fato a cidade tem um gestor, que é forte, tem autoridade, é eficiente, é moderno, isso é o que ele quer dizer. É isso que ele vai tentar mostrar. Como umas vantagens, quer dizer, a gestão de João Henrique foi tão ruim, e termina tão ruim, que é impossível não ser melhor que ele, qualquer pessoa que chegue vai ter mais credibilidade, por isso alguém vai apostar nele- Neto- por um tempo. Além disso, ACM Neto é tudo menos burro. Ele é uma pessoa competente, inteligente, é jovem, portanto tem possibilidades de fazer uma boa gestão.

ID 126– Como o senhor avalia a participação feminina no secretariado?

WG- Eu não vejo essa participação vistosa. Não tem nada de especial. Eu não vejo as mulheres em postos chaves, controlando posições chaves, não. A participação é normal, como qualquer outra, não tem nada de especial nisso, bem comum.

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