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Trajetórias de luta em diferentes tempos
- 06/06/2011Jornalistas negros nos dois séculos de imprensa na Bahia
Por Renê Santos
Hoje, em um país onde mais da metade da população se declara preta e parda, ainda temos que recorrer a mecanismos legais para garantir a presença de negros nos meios de comunicação. No jornalismo imperial, ainda sob o regime escravocrata que dificultava a expressão e inserção dos negros nas diferentes esferas sociais, jornalistas como José do Patrocínio e Luís Gama conseguiram se destacar na imprensa brasileira.
Na segunda metade do século XIX, com o auspício das leis antiescravistas – Eusébio de Queiroz (1850) e Ventre Livre (1872) –, o ex-escravo Luís Gama destacou-se na vida intelectual brasileira, especialmente no jornalismo. Filho de Luísa Mahin, uma das articuladoras dos levantes de escravos na Bahia, o jornalista negro, também poeta e advogado, teve participação ativa na luta abolicionista.
No período pós-abolição, percebe-se uma presença relativamente maior dos negros no jornalismo, dentre eles, Manuel Raimundo Querino. Nascido em Santo Amaro, região do Recôncavo Baiano, em 1851, Manuel Querino foi um dos primeiros líderes das classes dos artistas e dos operários da Bahia, além de professor e vereador. Escreveu para o jornal “Gazeta da Tarde”, tratando de questões abolicionistas e operárias. Em 1887 e 1892, fundou “A Província” e “O Trabalho”.
Fernando Ferreira de Goes nasceu no dia 27 de novembro de 1915, em Salvador. Ainda jovem, foi morar no Rio de Janeiro e depois em São Paulo. Tornou-se um homem das letras. Como intelectual ficou conhecido pelas posições críticas sem compaixão. Além da dedicação à vida e obra de Luís Gama. No jornalismo, Fernando Goes atuou no Tribuna Negra e Alvorada da chamada imprensa negra. Também foi redator, editor e colunistas de grandes jornais do país.
Na década de 1970, durante a ditadura militar, o Movimento Negro organizado unificou grupos e organizações com o objetivo de fortalecer o combate ao racismo. A partir daí, começaram a se destacar na imprensa tradicional e alternativa nomes como Hamilton Vieira, Jônatas da Silva, Fernando Conceição, Marlene Lopes e Ceres Santos. Dois desses jornalistas contaram ao Impressão Digital 126 suas experiências, Ceres Santos e Fernando Conceição.
Fernando Conceição, atualmente professor da Faculdade de Comunicação, estudou na Escola de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1979. Nos anos de 1980, trabalhou nos jornais A Tarde, Jornal da Bahia, Correio da Bahia e Tribuna da Bahia. O fato de ser negro não foi um impedimento para sua inserção no mercado de trabalho. Segundo Conceição, nesse período já havia muitos negros nas redações, por exemplo, do A Tarde.
A coordenadora do Programa de Educação e Profissionalização para Igualdade Racial e de Gênero (CEAFRO), Ceres Santos, se formou pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) na década de 80. Veio morar em Salvador depois de receber uma proposta de trabalho no Correio da Bahia. Em seguida, foi trabalhar no Jornal da Bahia e na Tribuna da Bahia. Além disso, também atuou como assessora de imprensa do Olodum e Ilê Aiyê. Para ela ser negra e mulher influenciam na longevidade da carreira e ascensão de hierarquia.
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