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O retorno do bom e velho bolachão
- 16/07/2013Em um mundo cada vez mais digital, os discos de vinil, que marcaram época no passado, aos poucos retornam ao mercado com força renovada
Lilian Galvão e Tácio Santos
Quando os CDs e os reprodutores digitais apareceram no início da década de 80, com a promessa de melhorar a qualidade de áudio e reduzir os ruídos e chiados das fitas cassetes e dos discos de vinil, deu-se como certo o fim da era analógica. As gravadoras desmontaram a maior parte das fábricas de vinil e investiram todas as suas forças na publicidade do novo formato de mídia.
Por quase duas décadas o famoso Long Play (LP) parou de ser produzido nas fábricas, com exceção de algumas poucas que continuaram a lançar discos de música eletrônica, pelo fato de o vinil sempre ter sido a mídia escolhida pelos DJs. O vinil se tornou artigo de sebo e o mercado passou a existir somente em pequenos nichos de nostalgia, alimentado por aficionados e colecionadores. Nos últimos anos, essa realidade tem mudado consideravelmente.
Em maio deste ano, o duo francês de música eletrônica Daft Punk vendeu na primeira semana de lançamento do seu álbum Random Access Memories, 19 mil cópias em vinil – cerca de 6% do total de 339 mil vendidas para todas as plataformas, de acordo com a Nielsen Soundscan, sistema de informação que mensura a venda de discos nos EUA. A Soundscan também atesta que a venda total de LPs por lá foi de 4,6 milhões de unidades em 2012. Esses dados demonstram como o vinil, uma mídia considerada morta pelas gravadoras durante anos, respira com vigor inesperado. Em um mercado fonográfico constituído principalmente pela ascensão dos downloads de mp3 e pelo declínio na venda de CDs, os vinis se apresentam cativantes a um público bastante jovem.
“Minha impressão inicial não foi positiva. A primeira coisa que notei foi a adição de ruído, que é indissociável do formato vinil”, relembra Leonardo Silva, 24, estudante de Música na Universidade Federal da Paraíba. Apesar de ter se incomodado, inicialmente, com o ruído, após a experiência ele não conseguiu parar de procurar e ouvir mais discos. “Há algo indescritível sobre o som do vinil, a sonoridade quente e rica em graves. Hoje eu não consigo mais viver sem. É uma experiência auditiva totalmente diferente”, comenta.
Atualmente, quase todas as grandes gravadoras, como a EMI e a Sony e algumas pequenas distribuem em vinis e a maior parte dos novos lançamentos recebe uma versão em LP, o que levou à remontagem de diversas fábricas de discos ao redor do mundo. Entretanto, a mais importante faceta desse revival é composta pelas reedições. Um número crescente de discos clássicos – incluindo todo o catálogo dos Beatles, Queen e Jimi Hendrix – foram relançados em vinil nos últimos anos e ainda são aguardados para o segundo semestre deste ano relançamentos de Nick Drake, Black Sabbath e Eric Clapton.
Mercado brasileiro e baiano – No Brasil, o processo ainda engatinha. A Polysom é a única fábrica em funcionamento na América Latina. Desativada em 2007, devido a problemas técnicos e financeiros, a empresa voltou à ativa em 2009, motivada pelo crescimento na venda de vinis no exterior. Atualmente, a Polysom trabalha com várias gravadoras, produzindo principalmente o pop rock nacional, como Bnegão, Nação Zumbi, Pitty, Cachorro Grande e Fernanda Takai, além dos relançamentos de artistas consagrados em outros estilos musicais. Em 2012, a fábrica dobrou a produção de discos em relação ao ano anterior, lançando aproximadamente 30 mil LPs e compactos.
Não há números oficiais sobre o consumo de discos de vinil no país porque a Associação Brasileira de Produtores de Disco considera fonogramas apenas os CDs, DVDs e Blu-rays, excluindo o LP da contagem. Existe, porém, um consumo crescente que tem passado despercebido pelas pesquisas de mercado.
Para Walter Lima, 51, proprietário da loja de vinis Bazar Musical, localizada na Rua Miguel Burnier, na Barra, o mercado baiano de discos ainda é tímido. “O forte é no Sudeste, principalmente em São Paulo”, afirma. Quanto à qualidade do vinil, ele disse que muitas pessoas jogaram fora seus discos, acreditando que o CD tinha um som melhor e duraria mais, mas depois perceberam que não era bem assim. “Um LP dura mais e é muito mais fiel à gravação original. Na Europa e nos Estados Unidos, os discos de vinil nunca deixaram de ser vendidos”.
Hoje, em livrarias, os LPs já convivem lado a lado com os CDs e ganham cada vez mais espaço entre consumidores que ainda nem eram nascidos quando os bolachões dominavam o mercado fonográfico. Prova de que o retorno ao vinil não é apenas o desejo saudosista de reviver o passado.
Em um cenário em que a mídia digital gerou incerteza até para as grandes corporações da música, o consumo de vinil ressurge aos poucos. Embora ainda seja cedo para se falar num renascimento do vinil, a produção e a venda de LPs novos em lojas e sites indica que esta não é apenas mais uma tendência passageira.
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