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Comer é hábito que vai além de cumprir exigência do corpo
- 14/09/2016Imposições da vida moderna têm impedido a realização das refeições como uma prática que envolve interação social
Carla Ribeiro e Raí Guerra| Fotos: Natácia Guimarães / Labfoto
Comer é algo essencial em nossas vidas. Seja por vontade própria ou simples prazer, essa prática pode ser vista como mais que uma necessidade básica para a sobrevivência. É a partir daí que se encaixa a noção de comensalidade – ou seja – o hábito de se alimentar em volta da mesa reforçando laços de sociabilidade.
Primeira instituição a estabelecer a união em torno do alimento, a família passa a se reunir para comer logo após o fim da era pré-histórica há pouco mais de oito mil anos. A partilha do alimento no interior de uma casa responde, então, a uma necessidade primitiva de segurança.
O que se leva em conta é que o rito de comer se apresenta em boa parte das sociedades, sejam elas antigas ou contemporâneas. A presença da mesa sela um ritual cotidiano que integra um dos momentos mais importantes da vida em família. Segundo a educadora física Ivani Souza, o ato de sentar-se à mesa para fazer as refeições, por exemplo, pode ser determinante no processo de estabelecimento de hábitos saudáveis.
Ao longo da história, diversas culturas e comunidades acabaram por ser influenciadas por mudanças de hábito impulsionadas pelos alimentos. No vídeo a seguir, o historiador Davi Ribeiro faz um apanhado desses processos.
Limitação
Apesar de uma rotina saudável contribuir para a saúde física e mental de um indivíduo – como a prática de exercícios físicos, uma alimentação adequada rica em nutrientes, dentre outros fatores -, a sociedade pós-moderna impõe certas restrições em relação à oferta de tempo para a execução desses hábitos.
Portanto, sem grande interesse ou tempo para sentar-se à mesa e partilhar deste momento com outros, o indivíduo acaba por se isolar enquanto se alimenta. Além destes fatores, o surgimento de alimentos congelados e conservados artificialmente, vendidos nos supermercados do mundo inteiro, possibilita que a alimentação seja feita concomitantemente com outras atividades. Ver TV ou permanecer nas redes sociais enquanto se alimenta passa a ser uma realidade bem próxima da vida do cidadão médio.
Frequentar restaurantes fast food também é um hábito cultivado pela geração pós-moderna que, sem tempo para preparar seu próprio alimento de maneira mais saudável, acaba por escolher uma opção que ofereça praticidade. De acordo com o historiador, esta decisão passa a provocar um desvio no rito de se alimentar em conjunto.
Ele explica também alguns dos malefícios da comida industrializada. “Próximos da gente, já é bastante comum a produção de alimentos congelados e fastfoods, com cardápios cada vez menos nutritivos. São comidas carregadas com pesticidas e agrotóxicos que fazem mal à saúde”, afirma.
Prazer e culpa
Comer transforma-se em mera operação de reabastecimento, e de certa forma passa a ser comum a renúncia ao prazer de saborear a comida e digeri-la com tranquilidade. Assim, a comensalidade pode ter ficado limitada ao almoço em família, que geralmente acontece somente aos fins de semana.
Ivani Souza trabalha na área de educação física há pouco mais de nove anos e considera que, ao compor uma rotina de alimentação saudável, é imprescindível que o indivíduo também coma por prazer. “O prazer para comer e por comer é satisfatório e importante”, afirma.
Seja qual for o grau de instrução do grupo em que o indivíduo se insere, a preservação de hábitos de alimentação equilibrados deve ser vista como algo relevante para uma vida saudável, embora seja importante lembrar que esses hábitos estão em constante transformação.