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Obesos engordam para justificar cirurgia bariátrica

- 23/12/2013

Na busca pelo emagrecimento a curto prazo, pessoas que já estão acima do peso ganham quilos a mais para se submeterem à redução de estômago. Baianas admitem terem engordado para atingir níveis aceitáveis pelos planos de saúde

Edvan Lessa

 

“O médico deu a entender que com o IMC 40 [Índice de Massa Corporal, indicador de obesidade que relaciona peso e altura] eu não teria como ser barrada pelo plano de saúde para fazer a cirurgia bariátrica. Aí eu toquei o terror por 15 dias e engordei 5 kg para atingir o peso ideal”, conta Mariele Góes, 26, ao lembrar-se do período em que abandonou as dietas e se submeteu à cirurgia redução de estômago. O procedimento foi sugestão do médico, que a operara de um cisto.

À época da cirurgia, com 111 kg – obtidos com uma dieta à base de pão com mortadela, refrigerante de cola, sorvete, brigadeiro – e hoje com 66 kg, a jornalista é um exemplo que confirma a opinião de muitos especialistas em cirurgias da obesidade: apesar de existirem critérios médicos claros para submeter alguém à operação, muitos desses procedimentos são realizados sem necessidade.

Em alguns casos, pacientes optam por engordar para atingir o peso necessário para a realização da cirurgia, por tratar-se de um caminho mais “rápido” do que exercícios físicos, reeducação alimentar ou outros tratamentos mais demorados para atingir o sonhado corpo magro.

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A “bariátrica” é uma cirurgia indicada para pessoas que atingiram um nível crítico de obesidade e possuem problemas de saúde associados a ela: índices elevados de gordura e açúcar no sangue, excesso de colesterol, pré-diabetes, dentre outros. Entretanto, Mariele Góes afirma nunca ter se encaixado nesses casos. “Fiz exames mais específicos, como o de apneia do sono, mas realmente não tinha nenhuma doença”, reforça.

Dados da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) indicam que o número de cirurgias bariátricas cresceu quase 90% no Brasil nos últimos cinco anos. Em 2012, foram realizados 72 mil procedimentos; sendo 6.029 através do SUS (Sistema Único de Saúde). A SBCBM, no entanto, não delimita o percentual realizado por meio dos planos de saúde ou quantas dessas cirurgias seriam feitas “sem necessidade”.

O Índice de Massa Corporal, calculado através da divisão do peso (em quilogramas), pela altura (em metros), ao quadrado, é um dos principais elementos para atestar a necessidade ou não da bariátrica – quanto maior o IMC, maior a obesidade. Pessoas consideradas obesas são aquelas que apresentam IMC entre 30 e 40, conforme os parâmetros do Ministério da Saúde (ver tabela acima). Contudo, para a SBCBM, considerar isoladamente o IMC “é impreciso para determinar os danos à saúde causados por peso excessivo e sua associação com doenças crônicas”.

Mesmo assim, muitas operações são realizadas com base apenas no IMC, sem levar em conta o fato de o paciente, por vezes, não ter nenhuma doença associada à obesidade. É o caso de Mariele, que foi submetida à cirurgia apenas por possuir IMC 40.

Engordar para ter autorização do plano – A assistente administrativa Iara Freitas, 40, faz parte do grupo de pessoas contabilizadas pela SBCBM que fizeram cirurgia bariátrica nos últimos cinco anos. Assim como Mariele, ela também engordou para ser aprovadas na perícia do plano de saúde.

O objetivo era o corpo ideal. “Para o plano autorizar [a cirurgia], era necessário IMC mínimo de 35, junto às comorbidades [doenças associadas à obesidade como diabetes e a hipertensão]”, lembra a assistente. Mas o índice estava abaixo do desejável – então, foi preciso ingerir carboidrato simples como pão, macarrão, queijo, presunto, achocolatado, biscoito recheado, refrigerante e chocolate.

Em sua primeira consulta com o cirurgião, Iara Freitas apresentava 82 kg; no dia da operação, ela estava pesando 103 kg. A assistente garante que o médico não sugeriu que ela engordasse, mas a orientou a suspender algumas drogas que vinha tomando para a perda de peso e que a impediam de atingir o IMC 35. Hoje, com 70 kg, ela garante que faria tudo outra vez.

Roberta Priscila Santos, 24, também engordou mais do que precisava para estar apta à cirurgia da obesidade, de acordo com o índice mínimo fixado por seu plano de saúde. “Eu tinha 95 kg e precisava chegar a 100 kg, mas engordei nove ou 10 kg”, lembra. Ao contrário de Iara, que passou a apresentar alguns problemas de saúde só depois que engordou para o procedimento cirúrgico, Priscila já sofria com dores nos joelhos, que não suportavam o peso do seu corpo, mesmo antes de ganhar mais peso.

 

Iara à esquerda, antes da bariátrica e à direita, depois do procedimento cirúrgico.

Mariele Góes antes e depois da cirurgia de redução de peso.

 

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