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Pelado, pelado, nu com a mão no clique
- 29/03/2017
A cultura do envio do nudes aquece a discussão do corpo no contexto virtual
Marcelo Ricardo e Pablo Santana | Ilustração: Lili Souza | Infográfico: Pablo Santana com vetores do Vexels.com
Em um contexto em que as redes sociais integram os modos de se relacionar, a sedução faz uso das mais variadas ferramentas para sua expressão. Desde as trocas de mensagens e ligações eróticas às videochamadas pelo Skype e ao compartilhamento de imagens com os contatinhos pelo Whatsapp, meninos e meninas derrubam a ideia de que a sedução é algo restritamente do feminino.
Para @Salvador17CM*, o discurso cristão que fundamenta a base de nossa sociedade criou o moralismo com relação a nossa nudez. “Eu não acho negativo [estar nu], mas em se tratando do senso comum, eu imagino que seja pelo moralismo cristão que nos oprime”, reforça.
A nudez passa a ser condenada na narrativa bíblica quando Adão e Eva comem da árvore do conhecimento e se apresentam a Deus vestidos com algumas ramagens do paraíso. O encontro dos portugueses quando atracaram seus navios nas terras brasileiras recheiam a carta de Pero Vaz de Caminha com o espanto de ter encontrado um povo nu. Para além da proibição e do espanto, a nudez também passa a ser considerada obscena no campo jurídico como “atentado ao pudor”.
Entretanto, a cultura do envio de nudes expõe uma discussão mais política com relação aos corpos que utilizam as ferramentas tecnológicas para sua exibição. Distante do que se pensa como banalização do sexo, os nudes são uma forma de fomentar o desejo do outro, independentemente de qual seja o envolvimento.
Troco Figurinhas
Mandar nudes serve como uma amostragem de si e ultrapassa também a ideia do corpo editado que o mercado do sexo costuma oferecer. Rafael Rodrigues (18), estudante, considera que a linha tênue que se estabelece entre o pornográfico e o erótico depende muito de quem vê. “Acredito que não haja diferença no ponto de vista artístico, no social sabemos bem que quem faz o pornô é visto de modo pejorativo e isso acontece ainda que seja um meio muito consumido, as duas coisas são apenas apresentações”, ressalta.
As nudes não são apenas do universo de pessoas solteiras. @MoniRxx revela que era comum trocar imagens para manutenção de sua antiga relação com seu companheiro para enfrentar a distância por conta da agenda de trabalhos. “Estando ou não numa relação, se eu sinto confiança na pessoa, eu envio nudes. Acredito que contribui muito para a saúde da relação. Mas sou muito cautelosa, afinal sabemos como a internet pode ser perigosa”, pontua.
Crimes virtuais com relação aos vazamentos de nudes põem em pauta a discussão sobre o marco civil da internet e evidenciam a discrepância da nudez para os gêneros no contexto social. Um exemplo foi o caso do modelo Paulo Zulu, que ao ter suas fotos íntimas expostas na internet teve uma repercussão positiva ao contrário da atriz Carolina Dieckman, que sofreu represálias e houve a necessidade da criação da lei específica. Tem ainda o Porn revenge, crime no qual o ex compartilha conteúdos íntimos do casal, colocando o corpo feminino numa condição desfavorável.
Vendo Nudes!
Gabriel Antônio, estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Tecnológica do Paraná têm uma pesquisa sobre a representação do corpo do homem negro não sexualizado e falocêntrico. A partir de um contexto de luz natural, com exploração da arte barroca e algumas intervenções digitais, ele expõe seus autorretratos, frutos de sua pesquisa, no Tumblr (+18):
O estudante aponta que a repressão social estimula uma louvação a contrariedade do que é natural. “Humanos são reprimidos. Adoram dizer o quanto detestam algo que amam só por terem a chance de ser contra algo natural. Hipersexualização, racismo, gordofobia persistem com roupas ou sem”, pontua. Gabriel tem um projeto sendo encaminhado e pretende expandir com outros modelos dos mais variados gêneros para poder representar a ideia da diversidade.
Heron Sena é artista e tem criado um novo negócio a partir dos nudes no cenário baiano. Dependendo da criatividade do cliente, o artista plota ou imprime em vários formatos imagens do nu que recolhe de modo responsável.
“Produzi uma série de 100 obras gráficas com nudes meus, de amigos, de paqueras e até da minha mãe. Todos eles contribuíram conscientemente. Hoje trabalho com telas, exposições e personalizados diversos. Sem sombra de dúvidas, o trampo mais divertido de minha vida: “Seja você também uma revendedora Nudes!””, anuncia.
* Os nomes dos/das entrevistados/entrevistadas foram alterados para proteção de suas nudes.