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Preconceito vira rotina em lojas de bairros populares em Salvador
- 14/05/2012Lojistas da capital baiana acreditam que consumidores desvalorizam estabelecimentos localizados fora dos grandes shoppings
Camila Queiroz e Niassa Jamena
Das simples às mais requintadas, se há algo em comum entre a maioria das lojas de roupas e acessórios que estão em bairros populares de Salvador é o preconceito. Muitos comerciantes do ramo declaram perceber a comparação negativa que os clientes fazem dos estabelecimentos que estão fora dos grandes shoppings.
“Existe um preconceito sim. Vários clientes dizem que minha loja não era para estar aqui nesse bairro, devido à boa estrutura e organização e à qualidade das roupas. Eles comentam que era para estar em um grande shopping”, afirma Camila Reis, 35 anos, dona de uma loja que carrega o seu nome no bairro de Pau da Lima.
Já Tatiane Santos, 29 anos, vendedora da loja Água Viva, localizada no bairro de Itapuã, percebe de forma mais direta essa visão pejorativa que o público tem sobre as lojas que estão fora dos shoppings. “Eu vejo preconceito em relação aos procedimentos da loja. Muitas vezes os clientes querem até trocar roupas sem nota fiscal por se tratar de uma loja pequena de bairro”, relata.
Para os lojistas, o preconceito advém do fato de as pessoas associarem a localização do estabelecimento à qualidade do produto e à falta de organização. Muitos acreditam que fatores como não venderem roupas de grife, oferecerem produtos a preços mais baixos e possuírem uma estrutura física mais simples estimulam o preconceito. “Às vezes os clientes falam ‘ah, eu fui ao Shopping Iguatemi e não achei’ a gente ouve muito isso aqui. As pessoas pensam que como não encontraram no shopping, aqui também não vai ter”, compara Daniela Andrade, 36 anos, gerente da Carolita Moda Feminina, loja que fica em Pernambués.
Entretanto, há quem diga o contrário. Selma de Jesus, 29 anos, operadora de caixa da Skit, que fica em Pau da Lima, conta que não vê preconceito dos consumidores com as lojas de bairro, e Eremilton José, 35, gerente da Mil Marcas Modas, afirma que não há diferenças entre os estabelecimentos localizados dentro ou fora dos grandes centros de consumo. “Não acho que tenha preconceito. Tem gente que tem baixa autoestima, acha que shopping é só para gente rica. Mas essa loja aqui é arrumada, não perde para shopping não”, elogia o gerente.
A questão também divide a opinião dos consumidores. Daniela Souza, 20 anos, cliente da Monique em Pernambués, acredita que o preconceito vem das classes sociais mais altas. “O preconceito é muito de quem compra. É uma questão de classe social, do lugar onde você mora. É claro que quem é de uma classe social mais alta vai preferir os shoppings”, ressalta. Já Claudijan Nascimento, 23, cliente da H. Looks em Itapuã, discorda e diz que os estabelecimentos distantes dos shoppings são atrativos para todos. “Não há preconceito não, porque nas lojas aqui do bairro há muita variedade assim como nos shoppings”, diz.
Apesar de boa parte dos comerciantes citados na matéria constatar que há discriminação em relação aos lojistas, Rennon de Oliveira, 33 anos, gerente da Bizú Jeans,em São Cristóvão, acredita que essa realidade está se modificando gradativamente. “A tendência é que quanto mais tempo a loja passe em um lugar, as pessoas confiem mais na qualidade dos produtos. Isso de certa forma acaba um pouco com esse preconceito”, aposta.
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