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Pressa e correria levam à troca do almoço pelo lanche
- 14/09/2016Alimentação em fast-foods, barraquinhas e carrinhos de comida é a solução em meio à falta de tempo, mas pode trazer problemas
Juliana Rodrigues | Fotos: Matheus Buranelli/Labfoto
Na faculdade, uma aula termina às 12h30 e a próxima começa às 13h, em outro campus. No shopping, entre uma venda e outra, o intervalo para o almoço é mínimo. Em meio à correria, é cada vez mais comum que os compromissos do dia-a-dia privem estudantes e profissionais de uma alimentação adequada. Sem tempo para ir a um restaurante e almoçar com calma, muitos recorrem às lanchonetes fast-food ou aos carrinhos de ambulantes, que vendem, nas ruas, lanches como cachorro-quente, pastel e banana real.
Entre os estudantes, se alimentar com pressa é um hábito comum. Aluna do curso de Farmácia na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ana Cláudia Santos acredita que a falta de tempo acaba levando à escolha por lanches rápidos: “A gente sai de casa cedo, chega em casa tarde, aí no corre-corre tem que se alimentar na rua, realmente”.
Em alguns casos, a correria entre uma aula e outra chega a impedir que a estudante se alimente. “Várias vezes ao longo do curso eu deixei de me alimentar. Com certeza o rendimento sempre é afetado. Geralmente quando a glicose começa a baixar, você já começa a sentir dor de cabeça, cansaço, e você percebe que o rendimento não é o suficiente pra captar as explicações do professor”, relata.
Mas os estudantes não são os únicos adeptos dessa prática. Profissionais, como o cabeleireiro Rivas Gomes, também costumam recorrer aos lanches. A correria já obrigou Rivas a substituir o almoço pelo lanche algumas vezes, mas o cabeleireiro se esforça para evitar que isso se torne um hábito.
Na hora de escolher o lanche na rua, as preferências são variadas. Ana Claudia costuma comer pãozinho delícia e pastel. Já Rivas dá prioridade a alimentos que deem mais “sustância”. Ele exemplifica: “Empanada, esfiha, coxinha… Já as coisas que são fritas, tipo pastel, ou que são pequenas, eu como muito pouco porque termina não sustentando. Não segura a fome, né?”.
Não é difícil encontrar quem já tenha tido problemas de saúde devido a esse tipo de alimentação. Tanto Ana Claudia quanto Rivas já passaram por episódios de infecção intestinal. É o mesmo caso da também estudante de Farmácia, Maria Carolina de Souza: “Fica aquela dor na barriga, que é meio que uma pontada. Eu associei ao que eu comi na rua, porque foi a única coisa diferente que comi. Mas mesmo assim eu não parei de comer”, conta, rindo.
Segundo o especialista em segurança alimentar Odilon Castro, os efeitos podem ir de uma simples diarreia até um agravamento do quadro, que pode levar à morte. Para ele, comer em barraquinhas não é recomendável em hipótese alguma. Nessas situações, seria mais seguro comer em lanchonetes fast food: “Se estamos falando de uma loja que tem um alvará de funcionamento, que teoricamente tem que seguir as regras de higiene, então ela tem condição de oferecer um produto mais seguro. Já a rua não tem nenhuma”, explica Castro.
As grandes cadeias de fast food costumam ter regras bem definidas em relação à higiene e à conservação dos alimentos. O supervisor geral do Bob’s na Bahia, Antonio Rocha, explica algumas das diretrizes da rede: “São conferidas as validades na hora que o produto chega, observamos se tem alguma avaria nas caixas, daí na loja os produtos e insumos são armazenados adequadamente, para que com isso a gente consiga oferecer ao cliente produtos de qualidade, sem risco de contaminação cruzada”.
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Mesmo com todos os cuidados, porém, ainda acontecem casos de intoxicação ou deterioração da mercadoria. “Quem trabalha com alimentos tem que ter o máximo de cuidado possível. Já aconteceram casos isolados, e assim que ficamos sabendo, corrigimos imediatamente”, esclarece Rocha.
Embora grande parte dos entrevistados deem preferência às lanchonetes fast food, por considerarem que o cuidado é maior, há quem discorde. É o caso da vendedora Camila Norato, que considera o lanche na rua mais saboroso. Cliente fiel da ambulante Jaciara Teixeira, conhecida como “Bonita”, Camila aproveita o horário de almoço para comer cachorro-quente ou algum salgado. “Mas como eu saio às 15h, chego em casa e almoço, porque um lanche só não sustenta”, acrescenta.
Bonita ressalta o cuidado que tem com as condições de higiene e conservação: “Eu faço o molho do cachorro-quente na hora. Não trago de casa, porque ele não aguenta, azeda. E a salsicha, eu mantenho quente, porque se deixar ela esfriar, tem mais possibilidade de pegar a bactéria de infecção intestinal. Só que nem todo mundo trabalha corretamente como eu”.