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Primeira festa literária da Bahia atraiu aproximadamente quatro mil participantes

- 21/11/2011

Saldo positivo da Flica faz com que o evento ganhe uma segunda edição em 2012

Por Carol Gomes e Vitor Villar

Pioneira do gênero na Bahia, a primeira edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) pode ser considerada um sucesso. As cerca de quatro mil pessoas que passaram pela cidade histórica do Recôncavo Baiano durante os seis dias do evento – de 11 a 16 de outubro – viram escritores, pesquisadores e estudiosos em geral discutindo aspectos cruciais da literatura. Para 2012, a segunda edição já está confirmada, e a Flica promete crescer ainda mais.

Isto porque, no último dia da festa, a Fundação Pedro Calmon, parceira do evento, anunciou a criação do Prêmio Damário Dacruz de poesia. O próprio professor Ubiratan Castro, diretor-geral da fundação, fez o anúncio. O prêmio selecionará os 12 melhores poemas a serem apresentados na Flica 2012.

Os autores contemplados ganharão premiações em dinheiro e será publicada uma coletânea com as obras vencedoras, com os direitos autorais repassados ao Pouso da Palavra – espaço cultural em Cachoeira, fundado pelo poeta em 2001. O regulamento e as cotas para participações ainda serão elaboradas pela Fundação Pedro Calmon, em conjunto com os organizadores da Flica. O prêmio é visto como uma importante contribuição para o legado do poeta, considerado um dos mais importantes da poesia baiana contemporânea, que viveu boa parte da sua vida em Cachoeira e faleceu em maio de 2010.

Poesia viva – Graça Cruz, viúva de Damário Dacruz e proprietária do Pouso da Palavra, acredita que o prêmio também será importante financeiramente. “O professor Bira [Ubiratan Castro] sempre colabora com o Pouso e esse prêmio vai dar muita visibilidade para nós. É uma felicidade saber que pessoas como ele têm esse carinho com o Pouso. O retorno financeiro, claro, vai ser importante também. Afinal, ficaremos com os direitos autorais da publicação”, comenta.

Porém, as homenagens ao poeta baiano não terminaram por aí. A mesa sobre poesia baiana contemporânea, que aconteceu no domingo, 16, trouxe também a leitura de alguns de seus textos, realizada pelo cachoeirano João Vanderlei de Moraes Filho, uma das maiores revelações da poesia baiana, que conviveu e, como o mesmo disse, aprendeu muito com Damário.

Talvez pela natureza do próprio tema, a mesa sobre poesia baiana contemporânea foi também uma das mais calorosas da Flica 2011, repleta de provocações, tanto do público para os palestrantes como vice-versa. O destaque ficou para a mescla de grandes nomes da poesia com novos escritores do estado. Além de João Vanderlei de Moraes Filho, estiveram presentes José Inácio Vieira de Melo, poeta e produtor cultural, engajado em projetos literários no interior e na capital da Bahia; Lima Trindade, editor da revista eletrônica Verbo21; e Darlon Silva, escritor de 20 anos, ganhador do prêmio Tempo de Arte Literária (TAL), da Secretaria da Educação da Bahia, em 2010.

Já consagrado, José Inácio acha que essa mescla é importante, sobretudo na oportunidade que a Flica dá para os autores jovens. “Dificilmente uma festa literária dá espaço para um jovem como Darlon Silva na sua programação oficial. Para poder estar lá tem que ter estrada. Eu já participei de várias festas e de vários outros eventos literários e nunca vi isso”, diz na entrevista concedida ao Impressão Digital 126.

Diversidade – A Flica também foi marcada pela diversidade de temas apresentados pelas mesas, que iam desde as heranças e afastamentos da literatura portuguesa nas colônias lusitanas até o fetiche do livro em papel e a transição para o meio digital. Não por acaso, essas mesas também mostraram o caráter internacional da festa.

Na mesa sobre os e-books, esteve presente o americano Bob Stein, um dos principais nomes no estudo dos livros digitais no mundo. Sobre a relação da literatura das colônias com a de Portugal, falaram os escritores João Pereira Coutinho, português, e Germano Almeida, cabo-verdiano, além do mediador do debate, o angolano Camilo Afonso, diretor do Centro Cultural Casa da Angola na Bahia. A mesa sobre Linguagens e Geografias também teve a presença do poeta e cronista português Pedro Mexia.

 

A cantora Marcela Bellas agita a Casa da Rede, na Flica. Foto: Carol Gomes

Além da programação principal, destaque para as atrações paralelas à Flica 2011, promovidas pela própria organização do evento ou por seus parceiros. Na Casa da Rede, ambiente cultural localizado na Praça da Aclamação, por exemplo, aconteceram atividades de literatura e música, entre elas um show da cantora soteropolitana Marcela Bellas. Tudo aberto ao público, que podia também participar mostrando seus talentos. Em um palco montado no porto da cidade, a cada dia do evento, sempre ao final das mesas, acontecia uma apresentação musical, que trouxe nomes como Orkestra Rumpilezz, BaianaSystem e Clécia Queiroz.

O Pouso da Palavra também recebeu suas atividades, como descreve a proprietária Graça Cruz: “O movimento de pessoas foi muito grande e, claro, com isso, os dias de festa foram bem lucrativos para nós. Fizemos uma parceria com a Fundação Pedro Calmon para que todas as atividades dela fossem realizadas no Pouso”, disse. Lá, aconteceram lançamentos de livros e tardes de autógrafos.

“Há males que vem para o bem” – Assim é possível descrever a relação do público com a mudança repentina de local da Flica 2011. Parte dos presentes ao evento manifestou-se a favor do novo local escolhido, principalmente por ser na Praça da Aclamação, local histórico de Cachoeira e centro da atividade cultural da cidade.

Apesar dos transtornos causados à produção, o coordenador geral do evento, Alan Lobo, vê um saldo positivo na escolha do novo local da festa. “Com a mudança, a Flica foi realizada numa construção barroca do século XIX [o Convento do Carmo], afinando-se ainda mais com as principais características de uma cidade que é Monumento Histórico Nacional”, disse.

Graça Cruz concorda com o organizador. “A Flica seria realizada em um auditório da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). Auditórios existem em qualquer lugar do mundo, já o espaço onde a festa aconteceu é único e ainda tem um peso histórico”, comenta. E completa, revelando uma conversa com os organizadores sobre o local a ser escolhido para o Flica 2012. “Eles me disseram que vão providenciar a climatização do espaço e que a ideia é mesmo manter o evento no [Claustro do Conjunto do] Carmo”.

Ainda sobre a mudança do local, o escritor Victor Mascarenhas, que participou da mesa sobre literatura “underground”, defende os organizadores. “Na verdade, eles mostraram enorme agilidade para resolver uma questão que inviabilizaria a realização do evento, o que seria muito ruim para os envolvidos e para a Bahia, que perderia a oportunidade de realizar a sua primeira festa literária”, argumentou.

E o planejamento para a segunda edição já começou: “Queremos aperfeiçoar o modelo, sabendo que não pode se mexer muito, afinal deu certo no modelo previsto”, revelou Aurélio Schommer, curador da festa, em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia.

Leia:

Primeira edição da Flica apresenta prós e contras, mas saldo é positivo

Alguns problemas marcam a primeira edição da Flica

Crônica: Estrada da Perdição – Diário Incompleto da Flica

Entrevista: José Inácio Vieira de Melo

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