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Profissionais trocam serviço público por desafios na iniciativa privada

- 05/02/2014

Enquanto 12 milhões de brasileiros sonham com a aprovação nos disputados concursos públicos, alguns arriscam ir contra a maré: trocam a estabilidade dos empregos no Estado pela promessa de uma carreira no setor privado

Yne Manuella

Com apenas cinco anos de formada, a advogada Edilma Ferreira já era funcionária da Petrobrás, uma das maiores estatais do país. Mesmo com as vantagens que o funcionalismo público proporciona – como estabilidade, bom plano de saúde e salário alto – ela pediu demissão após quatro anos trabalhando na empresa. Depois de refletir e planejar durante um ano, Edilma aproveitou um plano de demissão voluntária e saiu da empresa para montar seu próprio escritório. Hoje, afirma, convicta: “Nunca me arrependi”.

A advogada baiana tomou o caminho inverso àquele pretendido por uma imensa parcela da população brasileira, que sonha em sair da iniciativa privada para ingressar no serviço público. Em 2013, a Agência Nacional de Proteção e Apoio ao Concurso Público (Anpac) estimou em 12 milhões o número de brasileiros interessados em ingressar em carreiras públicas. O aumento na procura pelos concursos pode ser explicado pelas mesmas razões que, por mais sedutoras que pareçam aos “concurseiros”, levaram Edilma a pedir demissão da Petrobrás.

“Comecei a desempenhar minhas atividades de maneira automática, sem paixão. E eu sou movida a paixão”, relata a advogada. Ela conta que, embora o começo na estatal tenha sido prazeroso e essencial para seu desenvolvimento como profissional, logo se viu desestimulada, depois de três anos de tarefas repetitivas e  liberdade restrita – realidade típica do serviço público.

Para a “personal coach” Solange Melo, especialista em gestão de carreiras, a falta de desafios e o ambiente estável do serviço público não combinam com uma das características mais marcantes da sociedade contemporânea: a mudança. “Os desafios profissionais de um funcionário público são limitados. Muitas vezes eles acabam na hora em que o candidato passa no concurso. Essa ausência de desafios frustra muitas pessoas.”

Segundo Solange, há um condicionamento social disseminado de que o funcionalismo público é a carreira ideal para todos – o que não é verdade. Apesar das vantagens que proporciona, as pessoas devem analisar os seus perfis pessoais e profissionais para concluir se são ou não adequadas ao funcionalismo estatal. “Por mais bem pagas que sejam, há pessoas que nunca serão felizes dentro do serviço público, porque aquilo simplesmente não combina com o perfil delas”, afirma.

Influência política – Outros fatores, como as disputas políticas dentro da estrutura governamental, também podem contribuir para a insatisfação do servidor. O oficial de cerimonial Luiz Carvalho [nome fictício] pediu demissão do cargo que ocupava em uma prefeitura baiana após presenciar promoções motivadas por razões pessoais e políticas, além de represálias e intimidações. “Eu e alguns colegas fomos designados para operações estressantes só porque nos tornamos ‘personas non gratas’ para tal ou qual setor da instituição”, afirma Luiz, que agora atua como professor da rede privada na mesma cidade.

Para o também professor Alberto Dias, a decisão de sair do emprego nas duas escolas públicas em que trabalhava, apesar de acertada, veio acompanhada de um sentimento de culpa. Formado em Física pela Universidade Estadual de Feira de Santana, ele acreditava ser seu dever como cidadão retornar o investimento do Estado na sua educação para a parte mais carente da sociedade, geralmente concentrada nas escolas públicas. “Quando abandonei o ensino público, imaginei estar fugindo dos problemas sociais que assolam nosso país, contribuindo para o aumento desenfreado do caos do ensino público. Mas era uma faca de dois gumes”.

De um lado, Alberto pensava na responsabilidade social, mas, por outro, via sua carreira “morrer num calvário”. A possibilidade de trabalhar em um ambiente com uma melhor estrutura física e pedagógica e com um salário mais alto fizeram com que o jovem professor abandonasse seu emprego em duas escolas públicas do interior e ingressasse em uma escola filantrópica. Para ele, o serviço público não deve ser enxergado como um sonho. “No máximo, é um início de carreira por falta de opção”.

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