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Projetos sociais no Nordeste de Amaralina retiram jovens de ambiente de violência
Maria Quinteiro - 27/11/2017Esporte, música e oficinas são algumas das opções para os moradores do bairro
Localizado numa região perto da praia, o bairro do Nordeste de Amaralina foi ocupado sem um planejamento prévio, abrigando uma população que, em sua maior parte, buscava por trabalho nas redondezas a partir dos anos 1960. Atualmente a realidade daquela região passa por uma rotina cercada de violência, tráfico de drogas que tomou conta do cotidiano dos moradores locais. Em contrapartida, o bairro possui algumas atividades que possibilitam um novo caminho para os moradores. Os trabalhos sociais realizados não têm o intuito de substituir a escola, nem suprir a educação familiar, eles possuem a intenção de agregar conhecimentos e experiências na vida dos participantes.
Entre aulas de futevôlei e o contato com a música clássica, os jovens moradores conseguem olhar para um novo caminho, conhecer novas atividades e almejar um futuro diferente do que já tinham imaginado. Estas atividades específicas têm chamando atenção de pequenos moradores: são crianças e adolescentes que estão adquirindo novas experiências com os trabalhos sociais realizados na região
Um dos trabalhos sociais que acontece no bairro é a Escola Nordeste de Amaralina de Futevôlei (ENAF), responsável por ensinar a cerca de 30 adolescentes um esporte pouco conhecido no país. Originado no Rio de Janeiro em 1960, o Futevôlei vem conquistando espaço nas areias das praias, e no caso da ENAF, na vida de muitos meninos que enxergam no esporte uma oportunidade para tornar-se jogadores profissionais.
“O principal objetivo [Neojiba] é integrar e desenvolver propriamente crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social por meio de práticas coletivas de música”, diz uma das fundadoras do projeto no Nordeste Indira Dourado.
Além do esporte, o bairro também possui um incentivo do Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), implantado em 2016 em parceria com o programa Pacto Pela Vida do Governo da Bahia, que atua com crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. O projeto realiza atividades de iniciação musical, percussão e instrumentos de sopro: trompetes, clarinetas e saxofones. A presença da orquestra no bairro ampliou o horizonte de jovens que nunca tiveram contato com a música clássica ou sequer imaginaram fazer parte de uma orquestra.
Além desses incentivos, às crianças e adolescentes ainda podem ter acesso ao programa Mais Educação, proposto pelo Ministério da Educação, que tem como um dos objetivos a formação integral do aluno, ao propor sua permanência por dois períodos na escola. As atividades no contra turno fortalecem a prevenção e o combate ao trabalho infantil, a exploração sexual, e outras formas de violência. O programa visa ampliar a oferta de saberes, com as diferentes atividades que disponibiliza, deixando à disposição da criança e do adolescente, vários conteúdos e informações para o seu desenvolvimento, social, cultural e pessoal.
Por cima da rede e de cabeça
O projeto da Escola de Futevôlei têm o objetivo de ajudar jovens e adolescentes que vivem expostos a diferentes problemas sociais e econômicos por faltas de recursos e assistência. A iniciativa teve origem em julho de 2017, tendo o educador físico Tadeu Matheus, como um dos responsáveis. Ele é campeão baiano de futevôlei pela categoria b. “Já tinha uma turma que estava iniciando no “Fut” e com ajuda de Claudio, pai de um dos meninos, acabamos criando uma quadra. Sempre tive vontade de criar um projeto social, aí acabou juntando à vontade com a prática do esporte”, relata Tadeu.
Hoje, a ENAF possui cerca de 30 alunos, entre 10 e 18 anos. As aulas acontecem todas às terças e quintas-feiras, em uma quadra localizada no bairro, nas imediações do Beco da Cultura, de 15h30 até às 17h30. As turmas se dividem de acordo com a faixa etária. O “fut”, como os meninos chamam, faz o maior sucesso entre os alunos, que ajudam a colocar a rede, marcar a quadra e fazem do céu o limite mais alto, tanto dos pontos do jogo quanto dos sonhos que eles querem alcançar.
O professor Tadeu Matheus, que hoje ministra as aulas com ajuda de um dos pais dos alunos, foi criado em Amaralina, bairro vizinho, e sempre jogou bola na praia com o pessoal do Nordeste, bairro pelo qual não faz questão de esconder um sentimento de pertencimento que sem dúvidas, funciona como combustível para o projeto.
Neojiba no Nordeste de Amaralina
A presença do Neojiba no bairro trouxe uma nova melodia para os moradores, que já estão acostumados com crianças levando seus instrumentos musicais pelas ruas: violinos, trompetes, flautas. O programa atua com crianças e adolescentes através de Núcleos que estão espalhados por toda Bahia. No bairro do Nordeste, o espaço funciona no Centro Social Urbano (CSU), conhecido como Beco da Cultura, o trabalho é realizado com crianças entre 8 e 18 anos.
A participação do Neojiba em Núcleos localizados em diversos bairros de Salvador e no interior da Bahia, possibilitou uma expansão da Orquestra e disseminação do trabalho que eles realizam com a música, que hoje atinge cerca de 4600 crianças e adolescentes no estado. Indira Dourado, membro fundadora do projeto originado em 2007, relata que até 2011 tocava somente na orquestra juvenil, a principal do programa. Depois deste período, ela passou a dar aulas nos Núcleos de Práticas Orquestrais (NPO). Hoje, somente o Núcleo do bairro atua com 60 crianças e adolescentes.
Para Indira, “o principal objetivo é integrar e desenvolver propriamente crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social por meio de práticas coletivas de música. Elas buscam aprender e se destacar em um instrumento musical. Fazer apresentações. Ter reconhecimento por mérito de algo que elas conseguiram fazer”.
Projeto Mais Educação
Outro projeto que também é realizado no bairro do Nordeste é o Mais Educação, que possibilita a participação de adolescentes em oficinas, no turno oposto ao da escola. Um dos locais que implantaram esse projeto, é a Escola Estadual Sátiro Dias, localizada na região próximo ao Nordeste, que participa do Mais Educação desde 2009.
As escolas que integram o projeto precisam ter uma estrutura física para atender aos requisitos, como salas para as oficinas, lugar onde os alunos possam fazer as refeições e permaneçam depois delas, assim como um espaço adequado para a higiene antes e depois dos lanches diários que são oferecidos aos integrantes.
O integrante do projeto Mais Educação, tem direito a três refeições diárias, um almoço e dois lanches, que são dados no decorrer das atividades. A escola passou por algumas mudanças, como a criação de mesas, com bancos para o almoço dos alunos e a manutenção de duas salas onde acontecem as oficinas, além de adquirir escovas de dentes para os alunos, entre materiais para higiene.
A professora Abigail Novais, que ficou responsável pela implantação do projeto e sua coordenação durante quatro anos, relata sobre a importância das oficinas para os alunos “Esse projeto traz novas perspectivas para os alunos que não tinham nenhuma atividade no turno oposto ao da escola. Muitas vezes esses adolescentes ficavam expostos ao mundo das drogas, violência e com o projeto eles podem expandir novos horizontes, conhecer novos caminhos, além do reforço escolar em algumas disciplinas”.