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Psicoterapeuta fala sobre benefícios de viver em comunidade
- 09/09/2013
“As comunidades, seja um grupo, uma família ou uma cooperação por um objetivo profissional, são sempre determinadas pelo desejo de união, que está na essência do homem”
Lorena Vinturini e Simone Melo
Por que viver em comunidade? Sustentabilidade, elevação espiritual, segurança. Muitos motivos indicam a convivência em grupo como uma opcão para ampliar a qualidade de vida da sociedade. A psicoterapeuta e professora de yoga Márcia Almeida, que frequentou a Casa Sri Aurobindo, em Salvador, e Auroville, na Índia, fala sobre sua experiência e defende que “a essência do ser humano é união”.
Impressão Digital 126 – Para você, o que significa viver em comunidade?
Márcia Almeida – Minha experiência em comunidade é uma vivência parcial. Eu nunca fui uma residente. Mas trata-se de uma experiência que envolve partilhar uma intenção de consciência grupal, de uma construção positiva coletiva, a partir de um ideal.
ID 126 – Por que buscamos viver em comunidade?
MA – Porque na essência do ser humano existe o desejo de união, mesmo que não seja consciente. Mesmo que se busque estar junto por razões egoístas, no fundo, o que nos move é o amor, que é o princípio da união. As comunidades, seja um grupo, uma família ou uma cooperação por um objetivo profissional, são sempre determinadas pelo desejo de união, que está na essência do homem.
ID 126 – Para você, por que a experiência em comunidade ainda é vista como uma escolha alternativa?
MA – Eu acho que as comunidades alternativas só existem porque o sistema vigente não permite uma expressão diferente. Caso contrário, não seria alternativo. Mas, aos poucos, essas práticas serão inseridas no sistema porque elas não querem ficar à margem. As pessoas que optam por este modo de organização social não querem ir contra ou ser rebelde, mas apenas experimentar algo que está deformado, distorcido no sistema e nas culturas vigentes.
ID 126 – Por que muitas comunidades começam e terminam?
MA – As comunidades que eu já participei e que mantenho uma ligação se sustentam durante décadas. As que não se sustentam são comunidades que tendem a repetir o padrão de autoritarismo e centralização em um líder. Isso sempre tende a exterminar uma comunidade, já vi acontecer em muitas. Aquelas que se sustentam são aquelas onde não existe um líder e sim uma experiência grupal. Um governo e uma liderança coletiva, que está sempre se adaptando às mudanças e nunca fica estagnado.
ID 126 – Você acredita que esse tipo de organização social vai aparecer cada vez mais?
MA – Eu tenho certeza.
ID 126 – Como foi sua experiência em Auroville?
MA – Estive lá como visitante durante um mês em dezembro de 1996. Foi uma experiência muito intensa. A vida pulsa muito forte lá. Todos estão muito presentes na vida porque possuem o princípio do Yoga Integral, que é baseado em estar sempre com a consciência no trabalho, no serviço, no que está desenvolvendo naquele momento e no que está focando a sua vida. Lá eles recebem centenas de visitantes diariamente. Mas Auroville não é um local turístico. Então o visitante tem que ser paciente porque ele passa por praticamente 3 dias de instruções. Somente quando ele está realmente consciente do que é Auroville, ele é recebido pela comunidade.
ID 126 – Como foi fundada a Casa Sri Aurobindo?
MA – O dançarino e professor Rolf Gelewski seguindo a orientação de Mira Alfassa, sua mestra, trouxe para o Brasil os ensinamentos de Sri Aurobindo e fundou com um pequeno grupo, em Salvador, a Casa Sri Aurobindo. O local funcionou como um espaço para vivenciar esses ensinamentos e também para publicar em português as obras do Yogue. Existiu enquanto comunidade de 1960 a 1988. Eu estive lá por 7 anos, mas possuía meu apartamento e fazia parte do grupo, não residi na comunidade. Atualmente a Casa existe, só não compartilhamos o mesmo espaço. Mas o trabalho continua, nós nos consideramos amigos de irmandade e trabalhamos juntos.
ID 126 – Como funcionavam as atividades da comunidade?
MA – O trabalho da casa era voltado para a educação integral com a expressão das artes, especialmente a dança. Rolf, o condutor da comunidade, foi o fundador e diretor da escola de dança da UFBA, que foi a primeira no Brasil. Além disso, os artistas da época que estavam procurando um espaço com arte e ligação espiritual, passavam por lá. Nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Walter Smetak e outros não residiram, mas participaram com frequência das atividades da Casa Sri Aurobindo.
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