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Quando o “saber” implica em “saber transmitir”
- 19/06/2011A deficiência na cobertura de pautas científicas é ainda uma realidade no jornalismo. O interesse empresarial aparece como um dos principais empecilhos ao jornalista no momento de elaboração e divulgação de matérias que tematizam o meio ambiente, sustentabilidade, saúde e outros assuntos relacionados, implicando diretamente no acesso à informação especializada. Nesta matéria, apresentamos a iniciativa de alguns profissionais que decidiram enfrentar os riscos e lutam pela divulgação do tema.
Por Joseanne Guedes
Estudos realizados em universidades e centros de pesquisa em todo o estado denunciam que o crescimento da pauta científica na mídia brasileira não tem sido, necessariamente, acompanhado de uma maior qualificação desta cobertura. A coordenadora do Curso de Especialização em Jornalismo Científico e Tecnológico da Faculdade de Comunicação da UFBA (FACOM/UFBA), professora Simone Bortoliero, destaca a importância da união entre o cientista e o profissional da Comunicação. “Há um buraco no processo de comunicação em que o próprio cientista se recusa a falar. Nós não temos uma política comunicacional na UFBA; temos comunicação institucional na Reitoria”, afirma Bortoliero, que acaba de criar a Agência de Notícias em CT&I da Bahia.
Dados de um levantamento nacional divulgado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti) revelam que 40% dos brasileiros acreditam em jornalistas e 18% em pesquisadores. De acordo com o engenheiro eletricista Feliciano Tavares Monteiro, ex-secretário da Secti, o mercado começa a exigir profissionais de Comunicação com habilidade em assuntos relacionados às ciências. Assim, a cobertura de temas que determinam um conhecimento mais aprofundado, como meio ambiente, sustentabilidade, tecnologia, saúde, entre outros, pode ser um desafio para jornalistas, o que dificulta a popularização e a acessibilidade da ciência.
Atualmente, no mestrado em Saúde, Ambiente e Trabalho da Faculdade de Medicina/UFBA, a jornalista e ex-editora de Meio Ambiente do jornal A Tarde, Maiza de Andrade, afirma que uma das causas para a deficiência na cobertura científica são os constrangimentos por que passam os divulgadores. Sobretudo porque o jornalismo científico costuma estar contaminado por determinadas posturas, a exemplo do marketing verde, que tem por objetivo zelar pela imagem das empresas para as quais se trabalha. “Foram muitos anos dedicados a essa temática. As matérias mais difíceis foram sobre a perda da área verde de Salvador, em função do avanço imobiliário, porque esbarrava em escassez de dados incontestes. Agora, afastada das redações, me envolvi inteiramente no meu mestrado”.
Interesses empresariais criam problemas para o jornalista – Jornalistas que tentam dar vazão à questão ambiental na grande mídia, acabam contrariando muitos empresários – principalmente da construção civil – que anunciam nos jornais. Diante dessa dificuldade em aliar interesses empresariais e a pauta do meio ambiente, surgem questionamentos sobre como priorizar a independência, a ética, a transparência e, ao mesmo, preservar o emprego.
Para a jornalista e fundadora do movimento Amigos do Meio Ambiente (AMA) Liliana Peixinho, apesar dos desafios, o caminho está sendo construído, principalmente pelas mídias especializadas, que podem ser alternativas à chamada grande mídia. “Quem segura o jornal é a publicidade. Quando algum conteúdo jornalístico não corresponde aos interesses de grupos políticos, empresariais que anunciam no veículo, como no caso do jornalista Aguirre Peixoto, a coisa complica. Há jornalismos que conseguem driblar, de uma maneira sutil, esse conflito. Na prática, as empresas depredam o meio ambiente, e compensam com algum projeto social”. A ativista ressalta que aliar esses interesses à questão ambiental é perfeitamente possível quando o jornalista tem o compromisso de apurar se o que está sendo dito equivale à realidade.
Atualmente cursando o programa de treinamento da Folha de S. Paulo, Aguirre Peixoto, foi demitido do jornal A Tarde após uma série de matérias sobre ilegalidades nas licenças ambientais em Salvador. O jornalista, ex-aluno da Facom, afirma que o jornal não admitiu que seu desligamento tivesse relação com as matérias. No entanto, Aguirre reconhece que a reação da sociedade levou a direção a readmiti-lo. “O jornalista não tem que se preocupar (e de fato, lá no jornal, ninguém se preocupava) se uma matéria é polêmica ou mexe com determinado interesse. O papel dele é trazer pautas e fazer matérias, independente dos impactos que possam trazer. Claro que questões mais polêmicas exigem maior cuidado, porém, sendo notícia, o papel dele é ir atrás”.
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