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Quando vamos aprender que pedir ajuda é normal?
- 02/03/2017Michelle Oliveira | Foto: Freepik
Lembro de ter visto, na infância, meu irmão mais novo reclamar com todo mundo que tentasse amarrar o sapato dele. Ele faria isso sozinho. O problema é que houve uma época na qual ele ainda não sabia como fazer isso. Não faltava ensino, mas ainda era algo complexo.
Então ele insistia, levava tempo demais e alguém acabava amarrando para evitar atraso na escola. Ele saía emburrado. Alguns dias nessa insistência e ele aprendeu, finalmente, a amarrar o sapato.
Conquistar a independência é algo muito importante para nós. Então, desde cedo, as crianças querem fazer muitas coisas sozinhas. Amarrar o sapato, escovar os dentes, comer, tomar banho… Essa independência é fundamental para aprendermos a nos virar na vida, que nem sempre vai nos estender a mão.
O problema é quando acreditamos que PRECISAMOS fazer tudo sozinhos. Que pedir ajuda significa falhar. E falhar… bom, é o fim. Desse jeito, crescemos tentando fazer o máximo de coisas sozinhos e, quando não conseguimos, nos sentimos fracassados. Se isto evolui para a depressão, mais uma vez a pessoa se sente intimidada de pedir ajuda e o quadro só piora.
Percebo que essa sensação pode ser mais forte a depender da criação da pessoa, da posição que ela ocupa e de muitos outros fatores. Como a maternidade. As mães não podem errar nunca, não é mesmo? Pedir ajuda? Sinal de fraqueza. Você já viu sua mãe chorar? A primeira vez que vi a minha foi um choque. Minha mãe é uma mulher super forte, como é que pode chorar e precisar de ajuda se é ela quem sempre me abraça e consola? Hoje eu te entendo, mãe.
Mas, vez ou outra, todos nós passamos por algo assim. Quando mais nova, chorava apenas sozinha no meu quarto. Na frente dos outros? Jamais. Felizmente, amigos e um namoro duradouro me mostraram o quão melhor pode ser chorar no ombro de alguém. Eu não preciso segurar tudo sozinha. E não sou menos forte por isso.
Mas ainda tenho muito o que aprender. Quando entrevistava mulheres para a matéria sobre o “Eu aceito… Eu ofereço…”, todas repetiam como foi difícil pedir ajuda. Então percebi que ao entrar naquele mesmo grupo que elas falavam, eu também não pedi nada de imediato. Passei boa parte dos primeiros dias ou meses observando tudo, do mesmo jeito que fiz quando tinha 2 anos e vi meu irmão mais novo chegar da maternidade: distante e desconfiada.
Então alguém pediu ajuda e eu, por acaso, pude ajudar. Hesitei, mas fui. A sensação foi incrível. Mas levou mais um bocado de tempo para fazer um pedido e, ainda assim, não acho que venci a zona de conforto, como algumas mulheres corajosas que vejo escancararem a bagunça de casa e pedir ajuda. E o melhor: encontram pessoas que entendem que não há nada de errado nisso e que estão dispostas a ajudar. Vocês são incríveis, mulheres!
Quem sabe em 2017 eu aprendo.