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Sambistas reclamam de dificuldades na produção local
- 11/09/2013Apesar da fama de abrigar grandes festas, músicos avaliam que Salvador tem perdido espaço no cenário musical
Cláudia Guimarães e Laís Rocha
Quem não conhece a fama da festividade de Salvador? Apesar de ser vista como o local onde muitas festas e eventos acontecem, o cenário da música soteropolitana não é tão promissor como parece do ponto de vista dos artistas. A falta de infraestrutura e segurança para se realizar festas, a exemplo do déficit no número de casas de shows e a ausência de um espaço para receber eventos de grande porte são alguns dos principais obstáculos apontados pelos sambistas para produção de eventos. Em vistoria feita no mês de julho pela Superintendência de Controle e Uso do Solo (Sucom), foi constatado que somente duas das 28 casas de show e boates da capital baiana estão regulares com itens de segurança.
O axé e o samba são dois dos gêneros que representam a Bahia fora do estado, como afirmado pela própria Empresa Baiana de Turismo (BahiaTursa) em site institucional. No entanto, a valorização do samba produzido no estado perde espaço na mídia, como criticam alguns dos ícones do samba baiano, como Nelson Rufino e Neto Balla. Até mesmo no estado onde surgiu, o gênero sofre com a ausência de incentivos.
Para Nelson Rufino, compositor de grandes sucessos na voz de Zeca Pagodinho, o mercado de shows e incentivo à cultura da Bahia está definhando. “Para mim falta, além de tudo, reconhecimento. A gente fala muito de ‘prata da casa’, de valorizar o que é nosso, mas na hora do ‘vamos ver’ não somos nós que aparecemos nos outdoors e nem na grande mídia, a exemplo do carnaval”, critica.
Baixa estação – Com uma quantidade de casas de shows pequena em relação à produção musical da cidade, o que não faltam são exemplos de estabelecimentos que abrem durante o verão e fecham durante o resto do ano por não conseguirem se sustentar. Neto Balla, criador diversos movimentos de rua dentro do Centro Histórico, tenta mais uma empreitada para animar o Pelourinho em plena baixa estação. Ele está à frente do projeto Viola Vadia, que leva shows semanais nos meses de setembro a novembro aos largos do Pelô. “A gente tem que se virar, o que eu posso fazer? Não tem espaço para todo mundo. O Pelourinho é a minha casa, foi aqui que eu e muitos outros começamos, não é justo largar. É patrimônio, faz parte da nossa história. Eu acredito nisso tudo aqui, nessa força”.
Apesar dos investimentos empregados nos dois últimos anos pelo governo estadual, a insegurança, a falta de infraestrutura e de mobilidade ainda afastam a população do Pelourinho. De acordo com a diretora do Centro de Culturas Populares Identitárias (CCPI), Arany Santana, que gerencia os eventos realizados no local, a fama de decadência deve ser desfeita. “Nós programamos atividades para todo o ano. Depois das chuvas, o movimento vem crescendo paulatinamente, mas contamos muito com a divulgação das atividades culturais pelos próprios artistas, para que tragam seu público e desmistifiquem essa imagem de abandono e insegurança”, explica.
Segundo Davi Adan, produtor da banda Katulê, a falta de casas de show adeptas ao gênero também é agravante. “Aqui em Salvador eu só conheço o Botequim São Jorge e a Casa de Dinha. É muito pouco para toda a cidade. Não dá para todo mundo. A cada dia, surgem casas improvisadas nos bairros, como no Engenho Velho de Brotas e Uruguai, porque há uma demanda. Tem gente querendo festa, só não tem quem promova. Parece ser um problema crônico”, critica.
* Imagem destacada: Ascom Pelourinho
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