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Tecnologia RFID e o mundo em que tudo se comunica

- 06/04/2013

A questão é saber como agir diante da enxurrada de mensagens que esse mundo oferece e pensar até que ponto isso é benéfico ou prejudicial

Gilberto Rios

A previsão é de que alcançaremos o nível do filme Minority Report – A Nova Lei (Spilberg, 2002, 145min). Bastará passar por uma porta e leitores identificarão quem somos, quais nossas preferências e nossas rejeições. Simples assim, sem nenhum vendedor precisar consultar se a gente já tem o cartão da loja ou se a gente já conhece o prato da casa, por exemplo. Essa é uma das propostas das chamadas tecnologias RFID (Radio Frequency Identification ou Identificação por Rádio-Frequência), que podem estar em leitores ou em etiquetas que leem ou guardam informações e podem ser coladas em objetos, animais ou mesmo implantadas em pessoas.

Imagine um mundo em que tudo é passível de guardar mensagens. Você chega a um ponto de ônibus e pode receber recados sobre onde está o ônibus esperado, ou ir numa biblioteca e, antes de fazer o empréstimo de algum livro, ler o que as pessoas que o levaram para casa disseram sobre ele. Ainda daria para colocar naquele CD preferido informações sobre as ocasiões que fazem dele uma obra interessante em meio à estante. Essas são algumas das possibilidades é a grande promessa

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Este vídeo da Escola de Negócios Plan Avanza explica de forma bem humorada sobre as etiquetas RFID. O áudio está em espanhol.

No livro Spychips. How Majors Corporations and Government Plan to Track Your Every Purchase and Watch Your Every Move (Plume Book, 2006) –  ainda inédito no Brasil, e que pode ser traduzido livremente para: “Chips-espiões. Como Grandes Companhias e Governos planejam controlar todas as suas compras e cada movimento seu” – Katherine Albrecht e Liz McIntyre explicam que “em um mundo futuro repleto de chips RFID, cartões em sua carteira podem sinalizar quando você entrar em shoppings, lojas de varejo e supermercados, anunciando sua presença e o seu poder de compra”.  De acordo com as autoras, dispositivos de leitura ‘escondidos’ nas portas, paredes, telas e pisos poderiam revistar os chips RFID em suas roupas e outros itens para determinar a sua idade, sexo e preferências. “Como a informação spychip viaja através de roupas, eles podem até dar uma olhada na cor e tamanho de sua roupa de baixo”, brincam.

Inovações – Talyta Singer, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (PósCOM-UFBA), pesquisa sobre Internet das Coisas e as relações entre as mídias pervasivas e o espaço urbano. “Elas [as etiquetas RFID] foram criadas para substituir os códigos de barras, com a diferença de que cada etiqueta é única, serve para identificar um item específico e não um tipo de item, como acontece com os códigos de barra”, explica. A pesquisadora reforça que outra diferença é a forma de leitura de cada uma das tecnologias: enquanto os códigos de barra só podem ser lidos por um laser de curto alcance, as etiquetas podem transmitir informação a distâncias maiores e em alta velocidade.

Na mesma linha, em entrevista à Folha de S. Paulo em março deste ano, Vint Cerf, um dos fundadores da internet e vice-presidente do Google, profetiza que, brevemente, o que a gente encontrará mesmo será uma cidade inteligente, onde até no cimento existirão chips transmissores. “Uma ponte poderá informar que está rachando e que deve ser reparada. Se a pista estiver escorregadia, a ponte avisará ao seu carro que você deve reduzir a velocidade”, aposta.

Para Talyta, é interessante pensar que cada vez mais os dispositivos de comunicação se integram mais e mais. “A interconexão que antes um celular ou notebook te davam é muito diferente da interconexão possível com objetos em rede trocando informação de forma autônoma, com ou sem supervisão humana”, pontua. Para ela, esse excesso da possibilidade de as coisas deixarem vestígios no mundo já merecem algumas interrogações: “Importa discutir não só os dados abertos, mas também como vamos lidar com essas etiquetas e objetos que podem capturar informação sem que a gente veja. E mais, a quem pertencem os dados produzidos? Ao dono da etiqueta? Ao fabricante? E é seguro? Esses dados podem ser interceptados?”, questiona.

Nem tão bom assim – É nesse cenário que se desenham as primeiras implicações do uso dessa tecnologia. Se tudo é passível de informação, em que medida não estamos precisando repensar como lidar com as mensagens do mundo, inclusive juridicamente? Se, afinal, alguém pode ter um chip implantado em seu carro, será possível descobrir onde alguém entra e sai e com ele… adeus privacidade se os sinais que o automóvel envia cair nas mãos erradas.

Exemplos assim estão longe de ser apenas fruto da imaginação. No Brasil, já foi aprovado o Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos (Siniav), do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), com previsão de entrar em vigor em junho de 2015. O chip Siniav será instalado na placa ou parabriza dos veículos e funcionará como rastreador, contendo dados do número do chip, placa, chassi, Renavam, entre outros. Em Vitória da Conquista, cidade a 509 quilômetros de Salvador, o Centro Municipal de Educação Professor Paulo Freire identifica a entrada e a saída de alunos a partir de chips instalados nos uniformes dos alunos. Por meio deles, os pais também são informados, via mensagem de celular, se os filhos estão mesmo na escola.

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