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Transexuais aguardam cirurgia de mudança de sexo na Bahia
- 23/12/2013Ítalo Richard, Luana Amaral e Marília Cairo
[continuação 2/3]
Outra dificuldade é a escassez de profissionais habilitados a realizar a cirurgia de transgenitalização no Brasil. Apesar de haver médicos prestando o serviço na rede particular, são poucas as pessoas que podem arcar com o custo da cirurgia (que gira, segundo o médico, em torno de US$ 10 mil, o equivalente a aproximadamente R$ 23,7 mil), além de custos com acompanhamento pós-operatório.
Por isso, muitos pacientes, como Jeane, aguardam pelo atendimento no SUS em seus estados. Ela diz que não pensaria duas vezes em fazer a cirurgia paga se tivesse dinheiro suficiente. “Se eu tivesse R$ 30 mil e a opção de escolher o que fazer com o dinheiro, eu escolheria a cirurgia. Eu iria me sentir realizada comigo mesma.”
Ainda segundo Rossi Neto, o atraso da ampliação da oferta da transgenitalização no Brasil também se justifica pelo fato de a cirurgia ter sido encarada por muitos anos como “mutiladora” pelo sistema público de saúde, enquanto em países europeus – caso da Alemanha – ela já era realizada e paga pelo governo.
Preconceito e aceitação – Para Millena Passos, presidente da Associação de Travestis de Salvador (Atras), vice presidente da Articulação Nacional de Transgêneros (Antra) e coordenadora do Grupo Gay da Bahia (GGB), a sociedade ainda tem ideias conservadoras e preconceituosas. “A sociedade é repressora, machista e sexista.” Ela chama atenção para o fato de a Bahia liderar o ranking nacional de crimes contra homossexuais e vê na cirurgia gratuita de transgenitalização, por meio do SUS, uma forma de reparação social pelo preconceito e violência que homossexuais, transexuais e travestis sofrem. “Essa cirurgia vai vir para amenizar o sofrimento de muitos meninos e meninas transexuais”, acredita.
Jeane, que desde os oito anos se identifica como mulher, diz que hoje já não sofre tanto preconceito, mas relata ter enfrentado um percurso muito difícil de aceitação e luta. “Na minha época, não havia conhecimento do que era transexual. Então, eu achava que era gay, mas quando eu olhava para um gay eu dizia: ‘não sou isso, não sou um homem. Eu não quero assumir esse papel’. Daí, depois de pesquisar e de vivenciar, eu comecei a enxergar que a transexualidade não era uma orientação, é uma condição, está relacionada à identidade de gênero, e não à orientação sexual. Existem transexuais lésbicas, que se relacionam com mulheres. Então, é como você se sente, e não do que você gosta.”