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Tudo o que você precisa saber sobre a Prevenção Combinada
Greice Mara, Rafaela Rey e Vitória Croda - 03/07/2018Os índices de incidência das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) em jovens, na faixa etária dos 15 aos 24 anos, apresenta uma nova onda de crescimento, antes vivida na sociedade brasileira nas décadas de 70 e 80 com a epidemia da AIDS. Apesar do vírus HIV não liderar mais os índices, infecções como sífilis, HPV e Hepatite tipo B estão aumentando entre os jovens.
Vale observar, por exemplo, que houve aumento dos índices de infecção por HIV no Brasil em pessoas com mais de 15 anos registrado em 2012, segundo dados da UNAIDS – programa das Nações Unidas que visa auxiliar países mundo afora no combate a AIDS. Apesar dos índices serem considerados estáveis, as estatísticas brasileiras vão na contramão das globais, que vêm apresentando queda significativa desde 1998.
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- Novas infecções por HIV no mundo entre 1990 e 2016
- Prevalência do HPV por capital
- Salvador apresenta maior índice de contaminação entre as capitais

José Cristiano Soster, Diretor de Atenção Básica da SESAB
Em entrevista, José Cristiano Soster, Diretor de Atenção Básica (DAB) da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia – SESAB, aponta para o aumento no índice de contaminação de certas IST’s como Sífilis e HIV em grupos de gestantes e idosos. Segundo ele, há “um aumento relacionado à sífilis, evento que não é só da Bahia, mas sim do Brasil inteiro e que vem preocupando inclusive a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e todas as secretarias que fazem o monitoramento dessas doenças”. Também o HIV tem se mantido em índices elevados na população de idosos, e Soster atribui esse aumento de contaminação na terceira idade aos medicamentos para potência sexual associados ao descuido no uso do preservativo.
As razões do aumento desses índices, segundo o diretor da DAB, são também culturais, e relacionam-se a não adesão à prevenção e desleixo da população. Ele discute que “a disseminação é facilitada pela própria condição cultural quando não existem cuidados como uso de preservativo e acompanhamento médico nas unidades básicas de saúde, quando, por exemplo, se tem uma lesão que predispõe uma doença sexualmente transmissível, seja na região genital, uma mancha de pele, ou outros sintomas que são decorrentes dessas doenças”. Ainda segundo Soster, existe acesso ao conhecimento sobre a prevenção, mas a dificuldade está em fazer uso dessa informação para a mudança do comportamento da população.
A prevenção combinada
As campanhas de prevenção do HIV mais recentes iniciaram um movimento para pensar em novas estratégias e ferramentas preventivas que vão além do uso do preservativo, a chamada Prevenção Combinada. Representada por uma mandala, ela divide-se em três grupos de prevenção: a biomédica, a comportamental e a estrutural. Assim, é possível compor um perfil individual e coletivo que oferece alternativas mais completas de cuidados.
A Prevenção Biomédica trata da redução do risco de exposição mediante intervenção na interação entre o HIV e a pessoa passível de infecção. Essa prevenção pode ser dividida em duas categorias: intervenções biomédicas clássicas, as quais fazem uso de métodos de barreira física ao vírus, que são os métodos mais comuns; e intervenções biomédicas, baseadas no uso de antirretrovirais (ARV).
As Intervenções Comportamentais buscam aumentar a disseminação da informação e da percepção do risco de exposição ao HIV. A ideia é que se busque uma redução no contágio a partir do incentivo para que pessoas revejam seu comportamento diante do contexto social no qual se inserem.
As Intervenções Estruturais levam em consideração uma série de fatores e condições socioculturais e como elas podem influenciar diretamente na vulnerabilidade de indivíduos ou grupos sociais específicos. O que envolve questões de preconceito, estigma, discriminação ou qualquer outra forma de alienação dos direitos e garantias fundamentais à dignidade humana.

Como funcionam as intervenções
Mandala
A estratégia de prevenção combinada é realizada a partir do cruzamento das populações alvo (população-chave, prioritária ou geral) com os meios em que um indivíduo ou grupo estão inseridos.
Populações-chave:
São segmentos populacionais que, em muitos casos, estão inseridos em contextos capazes de aumentar suas vulnerabilidades. Além disso, esses grupos apresentam um índice 0,4% maior de incidência do HIV em relação à média nacional, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Essas populações são:
- Gays
- Pessoas trans
- Pessoas que usam álcool e outras drogas
- Pessoas privadas de liberdade
- Trabalhadoras do sexo
Populações prioritárias:
Neste caso, as vulnerabilidades destes segmentos populacionais estão ligadas às dinâmicas sociais locais e às suas especificidades. Essas populações são:
- População de adolescentes e jovens
- População negra
- População indígena
- População em situação de rua
Informação

Advogada Maria Eduarda Aguiar
A equipe do ID126 conversou com Maria Eduarda Aguiar, mulher trans, advogada e ativista dos direitos humanos, que ministrou uma oficina sobre a Prevenção Combinada no último Fórum Social Mundial, que ocorreu na UFBA, em fevereiro deste ano. Segundo ela, “a oficina é importante, é um método de informação e de empoderamento sobre essa nova modalidade de prevenção, contudo, acredito que ainda falta muita informação, é um mecanismo de prevenção maravilhoso, mas precisamos levar à população o esclarecimento de todas as questões que envolvem isso”. A advogada destaca, por exemplo, a falta de estudos a longo prazo sobre os efeitos dos medicamentos Prep (profilaxia pré-exposição) e Pep (profilaxia pós-exposição) na saúde de seus usuários e também informações sobre a interação desses remédios com o tratamento hormonal para a população trans em processo de transição.
Sobre a falta de informação, o diretor da DAB afirma que se tem buscado unir as unidades básicas de saúde através de web palestras abertas, que têm como principal alvo os profissionais de saúde para que eles possam fazer a detecção precoce, diagnóstico e tratamento adequado. Além disso, busca-se desenvolver materiais publicitários para informar as pessoas da necessidade de se fazer o teste rápido, de usar preservativo. Há ainda a divulgação de entrevistas, artigos em jornais, e pequenos banners para divulgação via whatsapp com o objetivo de trazer as pessoas para a discussão. Somadas a essas ações, há outras como a realização de feiras de saúde que promovem testes rápidos e indicação de tratamento para aqueles cujo teste foi positivo, palestras para comunidades, e outros.
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