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Vida de Cão
Caio Marco e Victor Fonseca - 14/10/2019Por Caio Marco e Victor Fonseca
Sobre quatro patas, Athos desfila sua elegância e juventude. Não dá sinais de orgulho, apesar do legítimo direito de alimentá-lo. À flor dos seus três anos, o cão policial reúne grandes feitos que o posicionam em local de destaque entre os agentes de segurança da Bahia: já detectou drogas numa carreta cheia de farelo de trigo, enterrada num matagal e até mesmo nos pneus de um caminhão na rodovia.
Nascido em fevereiro de 2016 na cidade de Teixeira de Freitas, Athos teve uma infância comum com seus irmãos. Logo cedo foi afastado da família e passou a crescer no lar do Capitão da PM Danilo Santos Cerqueira, comandante do Grupo de Operações com Cães da Rondesp Leste. As brincadeiras que experimentava transmitiam sinais de que havia um dom a ser explorado, o que não seria uma surpresa – durante anos sua mãe fora uma cadela policial, seu pai tentou a mesma carreira, porém sem sucesso. Em pouco tempo, o talento do pequeno pastor-belga malinois iria aflorar.
Diferente dos humanos, que recebem da polícia a capacitação técnica, Athos foi capacitado e adestrado por seu dono antes de vestir a farda. Sua desenvoltura e disposição para atividades envolvendo buscas foram sinais de que havia uma vocação por baixo daqueles pelos curtos e marrons. Não se enquadra no padrão forte e agressivo dos cães de guarda, a arma que utiliza contra a criminalidade é outra.
Seu apurado faro canino, 50 vezes mais aguçado que o humano, não poderia ficar limitado apenas à instintiva busca por alimento e luta pela sobrevivência. Sob o brasão da Polícia Militar, Athos presta relevante serviço no campo da segurança pública, e seu trabalho vem sendo amplamente reconhecido pela sociedade e meios de comunicação. Dá pra acreditar que este cão “assina” autos de apreensão de drogas em um volume de produtividade que, às vezes, muitos policiais juntos não conseguem acumular em igual período? É claro que ele não trabalha sozinho, o fundamento do seu emprego é através do binômio homem-cão.
Foi com o seu dono ao lado, na fase inicial da carreira, que ambos tiveram a oportunidade de receber uma capacitação no Rio de Janeiro. Após 33 dias de curso ministrado pela Polícia Rodoviária Federal, os dois foram certificados e, com brevê no peito, passaram a desenvolver a função especializada, nos mais elevados padrões de doutrina
Por falar em emprego, não há legislação trabalhista específica para sua carreira, mas conhecendo a realidade e a rotina dele, dá para sentir até inveja da sua profissão. Não no campo salarial, já que ao final do mês o contracheque vem sempre zerado. Mas pelo menos a rotina não tem nada de enfadonha: Athos cumpre uma série de exercícios físicos, como esteira e natação.
Além de ter respeitados seus horários de refeição e repouso, seu turno é intervalado por curtos treinamentos à base de brincadeiras. As atividades lúdicas de busca por materiais específicos ocultos, recompensadas por guloseimas ou brinquedos, são nada menos do que a reprodução simulada do seu labor. Assim, na hora de pegar no batente, ele entende apenas que é mais um desafio divertido.
Embora jovem, o pastor-belga malinois já é considerado um cão qualificado e não trabalha mais em atividades de rotina do patrulhamento, sendo apenas chamado para atender situações complexas, onde sua precisão é necessária.
Longe das questionáveis jaulas de zoológico dos históricos maus-tratos por que já passaram animais em circos, a vida deste canídeo é confortável. Novas acomodações, recebidas neste semestre, trouxeram condições bem apropriadas ao seu viver. Já precisou trabalhar à noite, em finais de semana e feriados, mas sempre conta com a prudência e preocupação do chefe, que lhe oportuniza momentos de distração e entretenimento também em outros ambientes, como parques, quintais e áreas livres.
Talvez por conta desses fatores que a caçula Dora já esteja disputando vaga para trabalhar na mesma organização do irmão mais velho. Ela hoje passa pelos mesmos estágios de adestração do seu parente inspirador, na esperança de demonstrar os atributos exigidos para o desempenho do cargo. A relação familiar com outros K-9 (homófono de canine, referência comum para police dog mundo afora) contribuiu para a conquista do cargo de trainee, mas não é suficiente para assegurar a admissão na firma.
Athos é solteiro e não tem filhotes. Está disponível para relacionamentos, se interessa por fêmeas que tenham porte físico semelhante e, preferencialmente, que exalem os feromônios do acasalamento já no primeiro encontro.
E a reforma da previdência, ameaça seus planos de aposentadoria? O plano de carreira do nosso perfilado assegura que os cuidados da fase após a vida produtiva (entre sete e oito anos) até o final dos seus dias na Terra, ficam a cargo do seu operador, que durante anos formou dupla com o animal.
Como ainda falta muito tempo para o bicho pendurar o colete, se depender de sua disposição e talento, Athos seguirá o exemplo do seu colega carioca, o labrador Boss, e vai complicar a vida de muitos criminosos pela Bahia.